Atenção!

"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".



quinta-feira, 15 de julho de 2010

Olha ela aí!

Enfim, eis a tia Tina, filho. Mamãe tava sem foto sua com ela, aí deixou pra escrever mais a fundo sobre a sua fono salvadora da pátria depois.

Tia Tina chama Maria Cristina Poyart, mamãe descobriu dia desses lendo a plaquinha da porta do consultório. Mas quando nos conhecemos, era só Tina, a fonoaudióloga. E isso foi há tempos. Lá na U.T.I da Perinatal. Graças a ela, você reaprendeu a mamar e, enfim, pôde voltar pra casa com a mamãe e o papai.

Deixa eu explicar melhor: todo nenenzinho quando nasce têm alguns reflexos imediatos. Um deles é sugar. Só que esses reflexos precisam ser estimulados nas primeiras horas de nascido para que a coisa engate. E, com você, isso não foi possível.

Em vez de pro meu peito, você foi direto pra caixinha da U.T.I. Como foi entubado, porque não respirava sozinho, ganhou também uma espetada na veia pra que fosse alimentado e hidratado com soro. E, depois, mesmo quando você já tinha saído do tubo, o soro se manteve, pois você precisou tomar alguns antibióticos preventivos. A novela continuou porque nas suas primeiras 48 horas de observação, você acabou tendo duas convulsões, o que fez com que precisasse de mais remédios. E durante toda essa lenga lenga, você continuou no soro e também recebendo leite por uma sonda.

Os tais remédios para controlar as convulsões, te doparam legal, filhote. E aí, até acharem a dose de manutenção que previnisse contra as convulsões, mas não te deixassem tão grogue, pode pôr duas semanas. Só aí você voltou a acordar aos poucos.

Ou seja, seu reflexo de sugar foi pra escanteio. Aí, olha a situação da mamãe: clinicamente, você já estava liberado para ir pra casa, mas só dava pra acontecer isso quando você conseguisse se alimentar sem a ajuda da maldita sonda. Nossa, quantas vezes papai e mamãe te deram leitinho pela sonda... ficamos craques. Nem precisávamos mais das enfermeiras. E era leite da mamãe, hein! Eu tirava todo santo dia na Perinatal de 4 em 4 horas, pra que você tomasse o meu leite e não o artificial. Tinha um baita orgulho disso. Eu era a campeã do lactário! Ninguém conseguia mais volume que a sua mamãe vaquinha aqui. Lá mesmo, eu comecei a doar leite para o banco do Fernandes Figueira. É, você divide seu lanche com amiguinhos desde pequenininho.

Enfim, foi aí que a tia Tina entrou na nossa vida. Com a nobre missão de te ensinar a mamar com a própria boca. Nunca me esqueço o dia em que eu estava desesperada, arrasada, por mais um fracasso com a chuquinha. Tava já sem forças, sem esperança. Achei que você não conseguiria nunca. E aí, tia Tina veio - já eram quase 11h da noite e nem era mais para ela estar lá-, e fez você tomar a mamadeira todinha! Você precisava ver a minha felicidade. Agradeci chorando. E, pela primeira vez em dias a fio, consegui dormir à noite quando cheguei em casa. Não sei se ela lembra desse dia, mas tá marcado como um dos mais importantes da vida da mamãe.

Dali em diante, você ficou meio irregular, às vezes mamando tudo, às vezes não. Mas aí, eu já era outra pessoa cheia de esperança e paciência.

E de repente, não mais que de repente, você engrenou e passou a mamar tudo vários horários seguidos!

E, então, aconteceu um outro dia que também é um dos mais marcantes da vida da mamãe: quando o tio Jofre, hoje seu pediatra e na época o médico chefe da U.T.I, cruzou com a mamãe no lugar onde lavava a mão e disse: "vamos programar a alta do Antonio para quarta-feira?". Era segunda à tarde. Explodi de felicidade. Também tenho esse momento gravado na memória claramente até hoje.

Eu e papai não queríamos contar pra ninguém. Queríamos sair quietinhos com você de lá e curtir nosso filhote em casa. Só nós três. Mas acabamos contando porque tinha tanta gente rezando, preocupada com você, que não achamos justo. Mas pedimos e fomos respeitados para ficar o primeiro dia em casa com você a sós.

Bom, me estendi. Mas voltando à tia Tina, foi mesmo graças à experiência dela, aos exercícios que ela ensinou pro papai e pra mamãe, que você passou a lamber os beiços.

Por que ela voltou a frequentar nossos dias? Bem, porque você logo largou a mamadeira e só quis saber do peito. Chupeta também, você jogou fora de cara feia. Não pegou. E aí, quando chegou a época de começar a papinha, suquinho, etc, mamãe tava tomando uma surra de novo.

Depois, ficamos sabendo que a sua questão motora também influencia bastante aí na sua dificuldade oral. Mais um motivo para recorrermos a santa tia Tina. Na primeira vez que voltamos a vê-la, agora já no consultório, você não queria saber de nada. Hoje já come sua papinha e suas frutinhas! Mamadeira é que: nem ela, nem mamãe, nem ninguém conseguiu te fazer tomar de novo. Brinco que você já é menino grande e só bebe de copinho e come de colherzinha.

E, assim estamos, filhote. Uma vez por semana tia Tina inventa uma moda diferente pra tentar fazer você comer e beber melhor. Já ganhamos bigode americano de Kinesio Tex; colher alemã molenga; copinho cortado; aprendemos a comer pulando em cima da bola de Pilates; cantando que nem doidos; e até no balanço! Nossa última aquisição. Mamãe saiu com um balanço de patinho debaixo do braço, mais sua bolsa, mais você... Se virando nos trinta. Bem ao estilo da tia Tina. Tudo ao mesmo tempo, agora. Acompanha quem consegue, e segue quem tem juízo.

Tomara que um dia a gente ainda possa agradecê-la com você mesmo falando obrigado. Essa é uma das maiores ansiedades da mamãe: saber se você vai conseguir falar sem problemas. Se não, tome de tia Tina!

beijo, filho!

3 comentários:

  1. Dri, tô adorando tudo! os textos, as fotos, os vídeos... tá muito legal!
    Beijão pra família!

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  2. Ai, que bom!
    tem feito tão bem pra mim, pra gente...
    e ph, já tô com saudades. mas queri ir pra SP desta vez.
    beijo!

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  3. Adriana, vc está cercada de Anjos! Que privilégio!
    AP vai ficar muito orgulhoso de saber que vc doava leite! E vai ficar muito feliz também de saber sobre as alegrias que te deu. Porque são alegrias com "A" maiúsculo ,são alegrias especiais, que tem um gosto diferente.São momentos que vc vive e que são de muita emoção por significar mais uma conquista do seu filho. Tudo isso traz um brilho adicional a sua vida. Torna tudo muito mais bonito. E poder sentir toda essa alegria também é outro privilégio!
    Parabéns!
    Um beijo grande!

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