Atenção!

"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".



segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Meu Magrelo Favorito

Ok, ok... mamãe estava de cabeça quente. Tia Flavis tem razão. Bobeira se importar tanto. Mas é como eu expliquei, quando a gente está mais fragilizada, a coisa sempre pega mais forte.

E não tem como negar, filhotinho, que esse período tem sido tenso pra sua pobre mãe aqui. Antes, pela ansiedade de fazer logo a cirurgia. E agora pela responsabilidade de fazer com que você coma para não precisar fazê-la. Seu papai vive dizendo que eu exagero, que sofro demais, que me preocupo em excesso e que tenho mania de achar que estou sozinha. Tudo bem, seria injustiça dizer que estou solitária nessa missão. Sem o apoio dele e, principalmente, da sua vovó Tela, não daria nem pro começo. Mas a verdade é que sinto sim o peso da responsabilidade no meu ombro. Afinal, sou eu que te dou comida, eu que controlo seus horários, eu que decido o que, quando e como te dar alguma coisa... A pressão, bem ou mal, está sobre mim. Não tem jeito. Ainda que seja eu mesma que a esteja impondo. Penso nisso o tempo todo, não consigo fugir. Tomei como missão mesmo. Enfim...

Mas... tivemos um fim de semana bacana. Como há muito tempo não tínhamos. Deu pra dar uma relaxada. Aí, fiquei com vontade de compartilhar aqui:

No sábado de manhã, ganhamos um balanço do papai xereta que, finalmente, tanto fuçou que achou o tipo ideal pra você. Pra quem quiser a dica, foi no site do Wall Mart. Aliás, isso vale um post depois. Quero falar da nossa eterna dificuldade de achar coisas, brinquedos, acessórios em que você 'fique'. É muito difícil fazer você ficar sozinho em algum lugar sem ser no chão com o nosso apoio, ou no nosso colo sentadinho ou em pé. Você odeia não nos ter por perto para 'dar uma mãozinha'. Como não consegue brincar sozinho, grita por ajuda e exige que a gente brinque com você. Porque você a-do-ra brincar. E aí... ficamos nós lá sempre com as colunas tortas, nas posições mais bizarras, para te atender. Esse balanço foi a primeira coisa que mostrou potencial para ser seu troninho solitário, digamos assim. Ainda que tenha que ter alguém para empurrar... Mas já é um começo, pois usamos também para te colocar no sofá, vendo TV, olha só!






























Bom, o domingão começou com uma caminhada família na Urca para aproveitar o dia lindo! Comemos tapioca de queijo com coco na feira, você tomou água de coco e depois, quis andar na mureta, olha que bonitinho...







De tarde, a gente foi pra piscina da outra vovó. E terminamos o dia bem relaxadões...





O mais legal é que mesmo com esses passeios todos, deu para organizar os horários dos papás. Você comeu bem.

Beijo da mamãe louquinha, como seu papai me chama. Mas é louca de amor, filho. Até.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Direito de Resposta

Ai, a internet... Mamãe tem uma relação de amor e ódio com essa grande aldeia global, filhote. Ao mesmo tempo em que nos ajuda e nos traz inúmeros benefícios, também nos prega algumas peças de vez em quando. Simplesmente porque ao colocarmos a nossa cara à tapa para o mundo, volta e meia, o tapa vem. Mas a vida também é assim, então paciência. O negócio é se fortalecer e saber como lidar com um tapinha. Que, ao contrário do que diz a música, dói.

Esse negócio de virar mãe também nos deixa mais sensíveis, é verdade... Mas o fato é que num momento já de tanta fragilidade, qualquer porradinha tem potencial de porradão. Não importa se conhecemos ou não a pessoa ou se o que ela fez ou disse não confere.

Bem, chega de enrolar... Estou falando de um comentário recebido aqui na última postagem que quando eu li, tive vontade de voar no pescoço de quem escreveu. Como se de repente, um monte de coisas engasgadas e guardadas quisessem sair de uma vez só. Depois, me acalmei, lembrei que escrever não é igual a falar, que comentário não tem entonação e que a pessoa, no fim das contas, não tem a obrigação de entender ou de se sensibilizar com o nosso momento. Pode ser alguém que não conhece a nossa história do início. Aliás, só pode ser alguém que não nos conhece há muito tempo para, numa frase, conseguir questionar toda a minha dedicação como sua mãe, durante quase dois anos...

Não importa. Já passou. Passar bem. Talvez eu ainda questionasse a forma como foi escrita a coisa, sem o menor cuidado conosco, mas... não é esse o meu ponto hoje.

É que, afinal, eu decidi responder a 'pergunta'. Que poderia muito bem ter sido feita por qualquer um. Claro, com outra delicadeza.

Mas, então, por que ainda não tínhamos ido a um nutrólogo? Bom, essa resposta não é simples e vai precisar de algumas linhas a mais. Mas mamãe decidiu responder porque eu tenho certeza que muitas mães irão se identificar com a resposta.

Vamos lá: a questão é que viver nesse mundo especial de cara tem uma característica que talvez não seja comum a todos que não vivem nosso dia a dia. Estou falando de fases, de períodos em que volta e meia nosso foco precisa ser direcionado para algo específico. Eu e você, filho, vivemos isso na fase em que estávamos em busca da melhor terapia; depois da fase das crises convulsivas; a fase de fazer você beber líquidos para não desidratar, a fase dos dentes nascendo e das noites em claro... É importante frisar que cada fase dessa fez literalmente o resto parar. Porque sempre lidamos com consequências limites. As crises convulsivas quase te levaram ao diagnóstico de West; ficar sem água, quase te levou à desidratação grave; noites em claro, interferem em toda a sua rotina, te privando desde as terapias até simples passeios. Enfim, frequentemente, perdemos o prumo.

Existe outra coisa também já falada aqui em outras ocasiões que é o cuidado que precisamos tomar com as expectativas. Nós, mães e filhos especiais, vamos aprendendo a duras penas que a máxima de 'tudo tem seu tempo' pra gente é multiplicada por 10. Não adianta insistirmos muito numa coisa, se aquela não for a hora. É difícil identificar essas nuances, mas é de vital importância porque se não, as seguidas frustrações nos levam ao fundo do poço. Eu quase cheguei lá algumas vezes, até conseguir aceitar que tem horas, infelizmente, que não dá.

Eu podia dar vários exemplos, mas vamos ficar dentro do nosso assunto: até duas semanas mais ou menos, fazer você comer era uma guerra. E o que a gente conseguia botar pra dentro era quase insignificante. Várias tentativas 'caseiras' e com fonoaudiólogas diferentes foram feitas. Temperaturas, texturas, sabores, consistências, horários... Você sempre mostrou que não suportava aquele momento. Que comer, pra você, era uma tortura. Enquanto tínhamos o suporte do peito, fomos nos segurando. Mas, como todos sabem a situação foi se agravando, você foi ficando mais velho e a nutrição não acompanhou. Ok. Dito isso. Quero que você imagine como seria se tivéssemos ido ao nutrólogo, 'antes da hora'. Você consegue imaginar a mamãe com uma tabela na mão com tudo o que você deveria comer, indo lá fazer a sua comida com alimentos específicos, colocando as gorduras indicadas, misturando fortificante e você, repetidamente, não ingerindo nada?! Se já era um estresse ver você não comendo sem números na minha frente, já pensou o que seria de mim e da minha sanidade com eles ali? Eu surtaria. E sofreria muito...

Meu ponto é: o que adiantava ir a um nutrólogo fazer uma dieta que você não comeria? O problema não era o que você estava comendo e sim que você NÃO ESTAVA COMENDO. Por isso, nossa busca inicial foi pelo pediatra, pelo gastro e, por fim, pelo cirurgião. Ao contrário do que pareceu na frase fatídica do comentário infeliz, nunca fomos irresponsáveis em relação a você. Seríamos sim, se ficássemos tapando o sol com a peneira e tentássemos não enxergar o problema, com medo de atitudes mais drásticas como a gastrostomia. Não. Corremos atrás, buscamos os melhores médicos, investigamos todas as opções, pressionamos todos contra o tempo... Enfim, lutamos por e com você como sempre, desde que você nasceu.

Antonio, só foi possível irmos em busca de orientação nutricional porque você passou a ingerir comida. Simples assim. Antes, seria inútil.

Bom, respondida a questão, falemos da nossa última aquisição na medicina. Dr. Cesar Junqueira, que, no fim das contas, não é nutrólogo e sim um gastropediatra que foca na questão nutricional. Indicação da Dra. Laís. Trabalha com ela lá no Fundão. Adoramos. Mais um companheiro que abraçou a nossa causa e que fala tudo com muita clareza.

De cara, uma vitória. Em uma semana - de quinta passada até ontem - você ganhou 200gr!!!!! Parece pouco, mas para o seu tamanho é coisa à beça para esse período. E por isso, ficou definido mesmo que você terá mais uma chance, antes de entrar na faca. Dr. Cesar nos deu 1 mês, com uma dieta bem calórica e cheia de fortificantes, para que você engorde de 800gr a 1kg. Se conseguir, a gente segue sem gastro. Se não, a gente faz mesmo a cirurgia em outubro. Porque ele foi mais um a dizer que realmente a sua curva está muito preocupante. De todo modo, só o fato de você estar comendo já é ótimo. Mesmo que precisemos fazer a gastro, provavelmente, poderemos revertê-la mais rápido, já que você está pegando no tranco. Tomara que dê para esperar você engatar aí a primeira, a segunda, a terceira... Mas se não der, não se preocupe. Já estamos todos te vendo como o guerreiro sensacional que você é.

Com ou sem gastrostomia, o que você tem feito nos últimos dias, preenche todos os quesitos de superação. E, mais uma vez, você mostra que é uma caixinha de surpresas. De surpresas boas. Que só nos dá alegria. E que faz esquecermos rapidamente de todas as dificuldades. Com você, a vida vale à pena. Todos os dias.



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Corrente do Bem

Bom, filhote, mamãe ia dar uma sumida. Pensei muito se vinha aqui ou não compartilhar os últimos acontecimentos. Sei lá, por nenhum motivo grave, apenas por estar meio lelé da cuca e querer de repente um tempo mesmo de paz e silêncio para deixar as coisas seguirem seu curso. Mas, depois, sabe, lembrei de tanto apoio que já recebemos por aqui... Aí, achei que seria, no mínimo, injusto sumir sem dar explicações, sem contar que fim ou não levou nossa novela nutricional... Enfim, acabei resolvendo vir sim dividir nossas questões com quem sempre nos quis tão bem. E depois também fiquei pensando que é importante deixar o máximo de informações registradas aqui para ajudar quem quer que seja e também para lembrarmos no futuro de como as coisas aconteceram.

Seguinte: olha a bomba, mamãe e papai decidiram adiar sua cirurgia.

Aí, você deve estar pensando: mas que gente doida. Tanta espera, tanta ansiedade, tanto sufoco, após finalmente conseguirmos o exame...

Pois é. Mas calma que a sua mãe não é tão louca assim. E eu nunca tomaria uma decisão dessas sem boas justificativas.

Então, acontece que a coisa demorou tanto que nesse meio tempo, algumas coisas mudaram. A principal delas, acho que já mencionei aqui, é que a sua ingestão e aceitação de líquidos melhorou 100%. No início, ainda estávamos meio cabreiros, sem saber se aquilo era fase ou se você ia se firmar mesmo como bebedor oficial de água, sucos, leites e afins. Firmou. Nada de mamadeira. Seu negócio é beber direto do copo e você está fazendo cada vez mais direitinho. Não importa se a cada 'copada' é uma troca de roupa. Pode babar o quanto quiser e sujar a mamãe toda também. Não me importo. A gente lava quantas roupas forem necessárias. O bacana é que fomos conseguindo aumentar o volume e o número de vezes aos poucos e hoje você já ingere boa quantidade de líquido reforçado de 3 em 3 horas.

A outra coisa quase inacreditável que também aconteceu aí durante essa longa espera pela cirurgia é que você também resolveu comer mais e melhor. Foram-se os escândalos homériocos, os engasgos pelo nariz e as ânsias de vômito também praticamente deapareceram. Ainda é bastante demorado, você reclama, esquece de mastigar, se mexe horrores, precisamos de um aparato considerável de palhaçadas da vovó e de quem mais se candidatar, mas... Você foi aceitando, aceitando... e hoje estamos conseguindo uma média de 180gr no almoço e no jantar. Às vezes, conseguimos 200! Pra você ter uma referência, o indicado seriam 250gr. Ou seja, pra quem há 1 mês não estava comendo nada!,não estamos tão longe assim do sucesso.

Bom, a que a gente credita essa melhora inesperada? Seu pai que não me ouça, porque ele sempre falou que esse era seu maior problema, mas acho mesmo que ele tinha razão... O fato é que desde que você passou a dormir melhor por sentir menos dores na boca devido aos dentinhos que não param de nascer, tudo passou a fluir. Acho também que o fato de já estarmos há um tempo com as medicações de refluxo deve ter ajudado. Mas o principal mesmo é que a sua boca deve estar mais aliviada.

Ótimas notícias? Até são. Mas aí vêm os poréns. O maior deles ainda é em relação ao seu peso. Devido a sua fase crítica, descobrimos que você perdeu quase 1kg do peso que já era insuficiente para a sua idade e estatura. Atualmente, já recuperou um pouco, mas ainda está abaixo da marca do início de julho, quando o tio Jofre falou que estava mais do que na hora de fazer a gastro. Ou seja, pela lógica numérica, agora seria mais indicado ainda. Só que a gente decidiu te dar um crédito. Afinal, você merece, não? Por tudo o que já mostrou ser capaz durante outros vários momentos difíceis por que já passamos. Essa é uma decisão responsável? Aí é que tá. Não estou tão segura. Mas ao mesmo tempo não consigo deixar de acreditar que você vai conseguir, sabe? Sei lá, é como se alguma coisa lá no fundo, uma esperança, fé... enfim, algo me dissesse que nada disso foi à toa. Essa demora, essa dificuldade de marcar a cirurgia... Como se tudo fosse de propósito para você ter tempo de mostrar seu potencial de recuperação. Será? Não sei. Mas estou torcendo. Estamos.

Outro ponto é que é uma decisão que nos deixa totalmente na corda bamba. Como essa sua aceitação é recente, não temos firmeza ainda para saber se é pra valer. Meu medo é que um dente de novo, um resfriado, uma virose... algo aconteça e faça você não comer de novo por um período e aí, a gente vá ladeira abaixo outra vez. E, nessa, vamos perdendo tempo. Se fizéssemos a cirurgia, teríamos uma opção por onde te alimentar.

Mas aí, vem outra questão, que também fez com que eu repensasse as coisas. É que pelo que tenho conversado com outras mães em que os filhos foram recém-gastrostomizados, descobri que o pós-operatório é ainda mais difícil do que imaginávamos. Desconforto pela sonda, gases, posicionamento para comer, cuidados com a cicatrização... Tudo isso num bebê que se mexe sem parar que nem você, que já não dorme bem e tem dificuldades para achar posição, começou a me colocar um pavor sem fim. Já estamos tão cansados de noites mal dormidas em que bem ou mal sempre conseguimos colocar você no colo, agarradinho com a gente para descansar um pouco. Imagina se não tivermos essa opção de te acalentar em nosso peito? Não consigo visualizar você tendo que dormir de barriga pra cima, sem podermos 'amassar' a sonda. E nem você durante todo o dia sem mexer com o treco pra lá e pra cá...

É, filhote... decisões de mãe e pai não são brincadeira... Mas, quero te dizer que somos sim responsáveis. E que traçamos um plano pra você. Quinta-feira agora iremos num nutrólogo para que ele faça pra você uma dieta hiper calórica, dentro do volume que você tem conseguido ingerir. Depois disso, daremos uns 15 dias para ver o resultado dessa dieta. Se ao fim desse período, você ganhar um peso razoável, a gente continua nesse caminho. Se não, ligamos para o cirurgião para marcar a cirurgia. E nada impede também que isso aconteça mais pra frente. Ou seja, se por algum motivo você voltar a não comer, a gente intercede a qualquer momento e faz a gastro. Só não quero que passe muito tempo porque a minha barriga vai crescer e em janeiro, nasce sua irmã. Por isso, coloquei aqui pra nós um limite aí de até novembro para realizar a gastro.

E é aí que vocês entram, pessoas! Quero acionar imediatamente a grande Corrente do Bem que sempre acompanhou o Antonio Pedro. Qualquer oração, reza, crença, macumba, pensamento positivo... é válido. Precisamos de vocês mais uma vez para tentar vencer mais essa. Vocês duvidam que ele seja capaz mais uma vez? Eu não.

Dou notícias.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Notícias mais uma vez

E aí, filhote...

Bom, mamãe passou aqui para te contar umas coisas e também porque sei bem o quanto tem um montão de gente ávida por notícias suas. Quero começar falando duas coisas importantes e que merecem registro.

A primeira é em relação ao seu último eletroencefalograma. Fizemos há um tempo já, no meio de julho. Mas em meio a essa confusão alimentar toda, não demos a devida atenção ao resultado do laudo. Aliás, demoramos uma eternidade para ir buscá-lo lá no Qinta D'or. Sei lá, como você já não faz mais crises há 6 meses e estamos tão envolvidos com outras questões, desligamos mesmo. Encaramos como um exame de rotina e o fato de termos visto lá depois a palavra 'normal', não mexeu muito com a gente exatamente por acharmos que isso condizia com o seu quadro sem crise dos últimos meses.

Mas aí chegou o dia da sua consulta - também de rotina, no intervalo de 3 em 3 meses - com a tia Laís, nossa neuro do coração. E levamos o exame, claro. E aí... Aí, Antonio Pedro, que você ganhou um sorrisão hiper, super, mega satisfeito da tia Laís. Ela ficou mesmo impressionada e feliz de verdade no momento em que viu o seu traçado. E explicou pra gente, quase emocionada, que aquele era o traçado de uma criança normal da sua idade. Que não havia mais ali nenhum vestígio de atividade epileptiforme e nem de atividade lenta, como sequela de encefalopatia. Ou seja, é como se as crises nunca tivessem existido! E a surpresa dela foi por conta do tempo récorde em que seu cérebro conseguiu ficar assim. Seis meses de crises controladas é pouco para tamanha mudança.

Isso significa, pitoquinho, que não há mais absolutamente nada atravancando seu caminho. Seu desenvolvimento futuro depende única e exclusivamente da sua força de vontade, do nosso apoio e amor e, mais uma vez, da capacidade do seu cérebro de se superar e de achar meios alternativos para realizar atividades que tiveram sua base original danificada no momento do seu nascimento.

Não é incrível?! Pois é. Mamãe e papai estão muito orgulhosos de você. Papai, para variar, sempre diz aquele 'eu já sabia', afirmando que é o que mais crê em você, sem necessidade de evidências. A mamãe aqui está aprendendo com ele, mas ama uma prova assim tão concreta da sua força. Não posso negar que isso me dá mais garra para o que vier pela frente.

E a segunda coisa é que, enfim!, fizemos o bendito do exame difícil toda vida de marcar... Afinal, acabamos fazendo um ainda mais completo do que o que faríamos. O inicial era uma Seriografia do esôfago, estômago e duodeno - traduzindo, uma radiografia dinâmica do processo de deglutição, esvaziamento gástrico, anatomia do aparelho digestivo e tal. Mas fizemos um videodeglutograma. A mesma coisa só que o processo é gravado e isso pode ser usado para avaliação futura e de outros médicos, assim como de fonoaudiólogos. Ou seja, muito mais útil e produtivo.

E vale dizer que quem deu força para fazermos esse em vez do outro foi a tia Tina, sua fono desde o início dos seus dias. Nem estávamos mais em atendimentos com ela no momento, mas a danada sempre aparece e fica atrás de notícias suas. Numa dessas, soube de todo o nosso drama alimentar/ cirúrgico e caçou ela mesma a médica que no fim das contas realizou o exame em você.

Aliás, essa marcação do exame merecia um capítulo à parte. Foi mesmo muito difícil de marcar. Nenhum hospital fazia; o CDPI da Barra, que era o único que fazia, só tinha agenda para outubro; houve a possibilidade de fazermos no Fernandes Figueira, onde trabalha o seu cirurgião, mas na véspera o aparelho quebrou...; consegui marcar com muito custo uma segunda tentativa no Silvestre de Botafogo, mas particular e só mais pra frente; até que finalmente a Tina falou pessoalmente com a médica do Copa D'or que acabou aceitando fazer em você, mas também só pagando fora do plano de saúde... Uma novela.

Mas... que acabou com final feliz! Juro, Antoninho, quando chegamos lá e eu vi o que você teria que fazer, desanimei na hora. Eu e seu pai. Tínhamos certeza que você nunca ia colaborar como seria necessário. Também, olha só: você teria que beber contraste, sentado numa espécie de cadeirinha de ferro lá, na posição de lado e numa altura específica para a câmera pegar....

Fiquei bem nervosa e aí, acho até que foi melhor assim, eu precisei sair da sala porque como estou grávida, não posso ser exposta à radiação. Saí rezando e os minutos seguintes na sala de espera foram tensos. Eu só rezava para que você não berrasse tanto, não engasgasse etc.

Finalmente a médica veio me buscar com uma cara satisfeita e me falou que tinha corrido tudo bem. Isso mesmo, Antonio Pedro. Inacreditavelmente, papai e vovó me contaram que você foi nota 10. Fez tudo o que era preciso, sem muita ranhetação. Como se tivesse entendido que aquilo era necessário. Aliás, quem disse que você não entendeu? Vai saber...

E pronto. Cumprimos esta etapa. Nosso próximo passo é levar pro cirurgião amanhã o DVD e o laudo com o resultado para decidirmos afinal qual o procedimento que iremos fazer. Estamos torcendo pelo mais simples, por endoscopia. Tio Jofre viu o exame e acha que dá. Tomara. Amanhã, saberemos mais detalhes, mas segundo a médica que fez o exame e o laudo, você tem tudo anatomicamente certinho, seu esvaziamento gástrico é bom e rápido, a capacidade do seu estômago é normal, você não broncoaspira e houve apenas um episódio de refluxo quando ela o deitou propositalmente, mas você não chorou. O que há é uma clara incoordenação na mastigação e deglutição que dificulta e torna o processo de comer mais suado e demorado. Segundo ela, o 'tratamento' é treino e muita paciência. Assim como com seus outros músculos. Precisamos de tempo e força de vontade. Sim, você e nós todos que estamos com você nessa luta. Não vou desistir de você jamais, Antonio.

É por isso que é muito importante levarmos a cabo o que a Tina já disse: não podemos parar de te alimentar também pela boca nunca. Você não pode parar de exercitar seus músculos aí de cima. É isso o que fará com que no futuro a gente reverta a gastrostomia. Mas também isso nem passou pela cabeça da mamãe: relaxar. É essa a preocupação das fonos. Que a gente relaxe e passe a dar comida só pela gastro. Só que nós aqui em casa não conhecemos essa palavra há muito tempo. A gastro pra gente servirá 'apenas' para completarmos a sua alimentação. Como quando as mães dão mamadeira de leite artificial pros recém-nascidos, depois das mamadas quando o leite do peito não é suficiente.

É isso aí, filhote. Rumo à cirurgia agora. Mas não precisa ter medo. Tem muita gente com você. Mamãe te ama.

ps: perdão a falta de imagens nas últimas postagens. Mas tenho escrito da casa da vovó e nosso computador em casa está 'parado'. Papai tem que consertar pra eu poder ter acesso aos meus arquivos.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

querida Marina,

Essa é a primeira cartinha da mamãe pra você. É que tem umas coisas que eu queria deixar bem claras, antes mesmo da sua chegada. É que eu quero que você venha ao mundo com as certezas certas.

Bom, vamos lá: você vai ver, quando você chegar, que tem muita coisa pra você digerir. A sua vida, de cara, não será a de um bebê comum. Muito provavelmente, você vai perceber logo que a sua mamãe não vai poder ser só sua porque já tem aqui um irmãozinho que ainda precisa muito de mim. E de você. Mas é aí mesmo que eu queria chegar.

Marina, não quero que você venha ao mundo como que com uma missão pré-definida. Não quero que você se sinta pressionada ou de alguma forma 'programada' para ajudar seu irmão.

Não foi por isso que fizemos você. Juro. Sei que você vai ler algumas coisas, que vai ouvir outras e que pode parecer que desde sempre pensávamos num outro bebê para ajudar no desenvolvimento do seu irmão. Filha, seria mentira se eu dissesse que o tema não apareceu sim em todas as vezes em que falávamos em outro filho. Mas nunca passou pela minha cabeça que esse fosse o único ou o principal motivo. Pra mim, isso é consequência.

Pra mim, Marina, isso vai acontecer naturalmente devido a todo o amor que existe aqui na nossa casa, na nossa família e que também daremos a você.

A começar porque com ou sem os problemas que aconteceram com o Antoninho, mamãe sempre teve vontade de ter mais de um filho. Sempre sonhei com mesa cheia, com Natal animado, com um monte de criança correndo pela casa. Ou seja, você viria, desejada da mesma forma, de todo jeito.

Mas não podemos mudar os fatos. E a nossa realidade atual é que quando você chegar, vai ver que o seu irmão não é como o dos seus amiguinhos. Há uma grande possibilidade de você falar, andar, correr... bem antes dele. E isso pode vir a ser estranho se não aprendermos todos a lidar e a conviver com isso de uma forma bem natural desde o início.

Esse trabalho é da mamãe e do papai, mas também vai depender de você abrir o coração para a nossa família como ela é e, principalmente, para o seu irmão. Que você vai ver. É o serzinho mais meigo do mundo e tem um sorriso que cativa qualquer um. Eu duvido que você não vá querer de bom grado tentar ajudá-lo, como todos nós aqui fazemos com prazer.

Não quero que você o trate diferente. Nem que sinta ciúme exagerado por alguma situação mais delicada em que a mamãe precisará estar mais presente ao lado dele.

Prometo que vou sempre te explicar tudinho e tentar fazer você entender as coisas como elas são de verdade, com toda a delicadeza que eu conseguir. Nunca farei nada sem conversar ou sem te ouvir. Vou ficar muito atenta sempre para não deixar passar nenhum momento em que você também precise muito de mim. E juro que vou te encher de carinhos, abraços e beijinhos como faço com ele o dia inteiro quase...

O que eu mais quero, Marina, é que você nasça saudável. Que você venha ao mundo para nos alegrar ainda mais. Que, como o Antonio, mas ao seu jeito, você nos ensine mais e mais sobre a arte de amar. E que aprenda também. Conosco e com ele, a ter vontade de viver.

Estamos te esperando. De braços abertos.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

É Menina!

Pelo menos, assim disse o médico que faz as ultras da mamãe. Ele é meio brincalhão, Antonio, e confesso que fiquei na dúvida se ele estava falando sério ou não. Aí, seu pai acreditou, disse que claro que ele estava falando sério, eu é que sou muito desconfiada... então, tá. Você terá uma irmazinha. E eu e seu pai estamos realizando o sonho dourado de praticamente todas as pessoas do mundo: ter um casalzinho para chamar de seu.

Bom, agora deixa a mamãe contar uma coisa engraçada. É até bom, pra gente dar uma descontraída nesses dias meio difíceis que estamos vivendo.... Então, no dia lá da ultra em que descobrimos o sexo do bebê, no finzinho, quando a mamãe já estava trocando de roupa, seu pai, na sala de espera, ficou lendo um livro de nomes. Aí, quando saio lá do banheiro e abro um sorriso pra ele dizendo: "que venha a Catarina!", ele me olha e fala: "então, é sobre isso mesmo que eu queria conversar. Não vai ser Catarina não".

Como assim? Pois é, Antoninho, seu pai leu lá no livro que Catarina significa pessoa desanimada, que quase nunca realiza nada... E o pior é que a grande maioria dos nomes tinha algo de bom no significado. Mas Catarina realmente estava fraco... Aí, fazer o quê?! Ele me convenceu. Afinal, queremos uma menininha cheia de vida para entrar na nossa família de 'gente que faz!', não é mesmo? Por isso, sua irmã, após mais alguns dias de busca e conversas, se chamará... MARINA.

Não é lindo também? Mamãe ficou satisfeita porque ainda tem a terminação 'ina' que eu acho sonora, já seu pai simpatizou na hora com o nome porque significa AQUELA QUE VEM DO MAR. E o papai, filho, ama o mar, adora velejar, sonha em ter um barco. Mamãe também sempre foi fã de praia. Também tem um pouco de 'Maria' que é um nome que também gosto muito. Enfim, ficamos todos felizes.

Que venha a Marina!