Atenção!

"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".



quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ciência x Vivência

Filhote, hoje a mamãe vai fazer um post mais filosófico, reflexivo, como há um tempo não escrevo...

Quero começar te dizendo que eu costumava ser uma pessoa muito prática, realista. Nunca fui de me iludir muito com nada. Dentro dessa linha, nunca acreditei, por exemplo, em horóscopo. Mas fala-se que Capricórnio é terra, é pé no chão.

Esse viés 'ver para crer' me acompanhava em tudo. Desde o aspecto religioso, que é ainda o mais difícil pra mim, até coisas mais banais em que a minha conduta sempre foi antes duvidar para depois pensar em acreditar.

Pois bem, por que a mamãe está falando essa lenga-lenga toda? Porque se eu tivesse ouvido o que eu ouvi do nosso ortopedista na época da 'antiga' Adriana, eu daria toda razão a ele. Mas hoje, depois de você, de tudo o que já nos aconteceu, achei engraçado como foi possível, internamente, duvidar do cientificamente válido.

Vamos lá, antes de explicar melhor, quero deixar claro que o Dr. Marcio Cunha é um excelente ortopedista e que já é nosso conhecido de outros carnavais... Ele já operou quase a família do seu papai inteira, incluindo, os dois pulsos da mamãe aqui, que teve duas tendinites seríssimas e raríssimas.

Adoro o Dr. Marcio, grandão, com aquele jeitão direto dele, sem frescura. Mais do que médico, ele é mesmo um amigo da família Matos. Sempre a postos para tirar dúvidas, dar uma olhada em joelhos, colunas e afins... Na verdade, foi uma grande coincidência a vida fazer com que ele fosse o especialista em casos como o seu, de crianças com problemas neurológicos. Quando que eu ia imaginar há 10 anos, numa maca para operar a mão, que mais tarde, estaria o procurando para olhar o meu filho...

A vida é engraçada mesmo. Cheia de entrelaces, como naqueles filmes de muitas histórias que se cruzam.

Enfim, desde que descobrimos que você apresentava atraso motor, que ouvíamos falar da necessidade de um acompanhamento de um ortopedista mais pra frente. À medida que você foi crescendo, esse momento foi chegando mais perto. Até que a tia Suzane comentou que talvez já estivesse na hora. Conversando com a tia Laís, ela disse que sim já podíamos fazer uma primeira consulta, ainda que ela achasse que nada precisaria ser feito ainda. Mas que não custava 'dar uma olhada'. Quem foi o ortopedista que elas indicaram? O Dr. Marcio. Por isso, falei da coincidência. Elas não sabiam da nossa relação antiga com ele.

Bom, liguei pra ele, contei rapidamente a sua história e marcamos uma consulta. Que aconteceu na quarta-feira passada. Fomos lá eu, você e papai.

Começamos bem. Assim que ele bateu o olho em você, disse o que já ouvimos tantas vezes, mas que nunca é demais ouvir de novo. Que você tinha uma cara ótima. Parecia ser super inteligente. E que isso vai te ajudar muito a conquistar o que o seu cérebro precisa. Resumindo, ele deixou claro que leva fé em você, Antonio Pedro.

Quanto aos seus ossinhos e músculos, estão todos no lugar e na margem de segurança. Ele explicou que, ainda que você tenha alguns movimentos viciados e outros que ainda são reflexos que já deveriam ter sumido se você não tivesse nenhuma lesão, nenhum deles está causando deformação. Como você não tem espasticidade, que é quando os membros ficam bem endurecidos e esticados, melhor. Falando de forma mais técnica, a sua atetose, que é a flutuação de tônus, acaba sendo menos problemática para a questão ortopédica. Já que você se estica, mas também relaxa. Muito... É o que se chama de hipotonia.

Enfim, só voltaremos lá daqui a dez meses, só para ele ficar te acompanhando mesmo. Segundo o Dr. Marcio, dificilmente você vai precisar de alguma cirurgia, aplicação de botox ou qualquer outro procedimento mais invasivo.

Tá. Tudo ótimo. Então, por que a louca da sua mãe começou falando que ouviu algo que pareceu ruim?

Porque... o Dr. Marcio não acredita em fisioterapia. Para ele e para a ciência, no caso a medicina, não há nenhum estudo que comprove resultados conclusivos da eficácia da fisioterapia em crianças com problemas neurológicos. Ele é um pouco da linha do Sarah. Que acredita que o que você vai ou não conseguir fazer depende inteiramente da capacidade do seu cérebro de conseguir ou não achar caminhos alternativos. E a fisioterapia não tem nada a ver com isso. O tempo que você vai levar para conseguir fazer ou não as coisas é o seu tempo, pessoal e intransferível. E a fisioterapia não teria o poder de acelerar ou mudar esse prognóstico. Ou seja, para o Dr. Marcio, seu futuro depende inteiramente da força de vontade e inteligência do seu cérebro. Tudo o que estamos fazendo seria meramente especulativo e sem embasamento teórico.

Porrada na cabeça? Talvez. Se eu fosse quem eu era antes, como falei lá no início. Mas, hoje, após ver tantas melhoras incríveis em você; depois de presenciar tanta coisa que nem tem a ver com a parte motora, mas que pareceram verdadeiros milagres, não posso mais dar tanto crédito à ciência.

Nossa vivência, filho, já deu todas as provas de que precisávamos para crer que tudo é possível. E mais: que nada é à toa. Acho que essa última frase é ainda mais importante que a outra. Tudo o que fazemos, pacotinho, acaba trazendo algo de bom. Não tenho a sensação de ter feito absolutamente nada que tivesse sido em vão.

Estou falando isso, porque na pior das hipóteses, se a fisioterapia não adiantasse de nada mesmo, já valeria pelo incentivo que você sempre recebeu de todas as que já colocaram a mão em você. Da pioneira tia Bárbara a nossa mais recente aquisição que é a tia Alexandra, todo mundo que te conhece, se apaixona e instantaneamente acredita em você, no seu potencial. E aí, a mamãe volta para aquele lance de energia. Tanta energia boa a sua volta só pode fazer bem, só pode fazer com que você queira melhorar ainda mais. Mais do que seu instinto natural de nunca deixar de tentar.

Pra terminar, o próprio Dr. Marcio, lá pelo fim da consulta, disse: "um pesquisador americano fala algo em que aí sim eu acredito: mais importante que a fisioterapia é o fisioterapeuta'. Acho que o que ele quis dizer é bem por aí, bem parecido com que a mamãe falou acima. E, nesse quesito, filhote, de bons terapeutas, sempre estivemos bem servidos. Por isso, seguiremos em frente, sem jamais deixar de acreditar na sua melhora. Seja pelo exercício físico em si, seja por todo exercício emocional que tanta gente faz com a gente há tanto tempo... Deixo aqui o nosso 'muito obrigado'.





sexta-feira, 15 de abril de 2011

De Perepepé

E, aí, filhote?

Ufa... Estamos exaustos. Você porque danou de esperar a mamãe acordado, raramente descansando à tarde. E eu porque essa jornada dupla de mãe e profissional não é moleza, Antonio Pedro. Todos sabem o quanto eu queria voltar a trabalhar, mas após 1 mês, estou sentindo na pele o cansaço que a falta de tempo e descanso pode causar.

Mas não estou reclamando. É só uma constatação. Até porque, meu corpo pode estar moído, mas minha cabeça está mais arejada. Foi muito bom ver que eu ainda tenho capacidade de escrever sobre outras coisas, que minha imaginação ainda funciona para cumprir exigências de trabalho. E o melhor é que não foi difícil pegar no tranco, sabe pacote... Achei que eu podia estar enferrujada, mudada, lenta...

Que a mamãe é outra pessoa hoje, não tenha dúvidas. Mas ainda sou a Adriana rápida e criativa de antes. Ou seja, sou muito melhor! Sou quem eu era, agora, com bônus!

Bom, vamos ao que todos querem saber: nossa nova rotina de fisioterapia. Está tudo indo muito bem, filho. Parece mentira, mas na primeira semana, já sentimos uma melhora de tronco! Coisa que eu não via em você há meses... Seu ângulo está mais reto. O corpo e a cabeça caem menos, quando te colocamos sentado. E suas mãos ganharam mais um pouco de qualidade de movimento, além de você também estar treinando muito e aprendendo cada vez mais que elas podem servir de apoio. Essa é como uma descoberta da pólvora, pacotinho. Você está estudando o assunto. Quando descobrir pra valer, vai ser uma revolução.

Mas, então, estamos mesmo gostando muito da tia Alexandra, nossa nova escudeira. Ela faz você suar o macacão. É sessão de ginástica mesmo. Pesada. Tome de escalar almofadas, sentar e levantar, abrir e fechar brinquedos e... FICAR DE PÉ.

É essa a nossa nova diretriz principal. Como disse a tia Tereza, que supervisiona seu novo tratamento, deitado é só para dormir. E elas estão levando esse lema tão a sério que a vovó disse que outro dia, a tia Alexandra chegou a colocar a sua roupa com você de pé. Como, depois eu quero que ela me mostre...

Tem uma coisa que eu acho que faz uma diferença incrível. Não tanto quando você era menorzinho, mas bastante agora que você já está um menino grande! O espaço em si, onde as sessões acontecem. Um lugar amplo, claro, cheio de acessórios e equipamentos coloridos. Tudo à vista, organizado. E bastante espaço para você se mexer, 'andar', brincar.

É claro que espaço nenhum substitui uma boa fisioterapeuta, mas se for possível unir as duas coisas é o ideal. E é isso o que acho que estamos conseguindo. Ainda é cedo para dizer com tanta certeza, mas acho que o seu rendimento não caiu com a mudança. Isso é um ótimo sinal! Mamãe estava com medo de não achar alguém com o carinho e a competência da tia Eliane. Bom, acho que o carinho vai ser mesmo difícil de superar, mas em termos de profissionalismo, seriedade e satisfação com resultados, tia Alexandra e tia Tereza estão nota mil.

E desde que ganhamos esse 'dever de casa' de te manter de pé o maior tempo possível, tenho gostado das suas respostas. Você nitidamente fica mais feliz vendo o mundo na vertical. E de pouquinho em pouquinho, parece que vem ganhando mais força nas pernas. Ainda precisamos de muita ajuda das faixas azuis, pretas, dos extensores e uma calha está sendo providenciada para que você dê conta do recado, mas mesmo quando está 'in natura' você não faz feio não, filhote!

Pena que a mamãe não tem tirado muitas fotos por causa da correria. Mas vou providenciá-las. Enquanto isso, selecionei algumas de um passeio recente. No próximo post, conto como foi nossa 1ª visita ao ortopedista.

beijos cansados da mamãe que vai se juntar a você lá na cama agora...



domingo, 3 de abril de 2011

Mudança Tática

Oi Antonio!

Já foram duas semenas de mamãe à distância e você continua se comportando bem, comendo direitinho, bebendo melhor! e, o principal, sem me dar nenhum susto. Meu temor maior. Imagina, mamãe lá longe e você inventando de ter uma febre, uma crise de choro, dores, enfim... Sei que vai acabar acontecendo, mas esses primeiros dias de paz têm sido essenciais.

Mas, vamos lá, mamãe quer te contar hoje que a gente precisou fazer algumas adaptações para que nosso tempo juntos, que agora não é mais o dia inteiro, pudesse ser mais bem aproveitado. Vamos trocar de novo de fisioterapeuta.

Foi uma decisão bem difícil, pacote. Mais sofrida ainda do que quando saímos da tia Bárbara, no meio do ano passado. É que acabamos nos ligando mais ainda a tia Eliane, que, você bem sabe, é um doce de pessoa. E super competente. Deus sabe o quanto ela foi importante para nós nesse período que nos acompanhou. O balanço, o carinho, os ouvidos para escutar a mamãe... Convivemos com uma pessoa muito especial, Antonio Pedro. Tão especial que foi capaz sem mágoa nenhuma de nos entender, de entender esse nosso momento.

O que acontece é que o consultório da tia Eliane é bem distante da nossa casa. E acabávamos, para piorar, pegando muito trânsito na volta. No início, como precisávamos demais dela, do balanço... mamãe nem se importava com isso. Os benefícios eram maiores do que qualquer contra-tempo. Eram mesmo. Tenho certeza que a tia Eliane é uma das principais responsáveis pelos seus ganhos nesses últimos meses, principalmente, em relação a sua organização geral. Quando começamos com ela, você ainda era um bebê muito assimétrico, irritadiço, descompensado. Hoje, apesar de ainda termos muita coisa a conseguir, você já está bem mais próximo de encontrar o eixo.

E é só por isso, como eu disse para ela, que fui capaz de pensar na possibilidade de te tirar de lá. Parece contraditório, mas não é. Ela foi tão boa para nós, que a mamãe hoje sente segurança de tentar arriscar uma outra coisa. É como foi com as crises convulsivas. Enquanto elas existiam, eu não cogitava ficar longe de você um segundo. Depois que elas foram embora, eu consegui até voltar a trabalhar! E assim é também em relação à fisioterapia. Enquanto você era aquele bebê desorganizado, nem passava pela minha cabeça mexer em time que estava ganhando. Mas hoje, com você mais maduro e seguro, consigo ter o pensamento mais maleável e consigo voltar a levar em consideração todas as variáveis. Como, por exemplo, as desvantagens de um deslocamento maçante e demorado.

Não tinha muito jeito. Ou era isso ou a mamãe não ia mais poder ficar com você nas suas sessões de fisio. Não estava dando tempo deu chegar no trabalho na hora certa. E aí, mamãe acabou falando daqui, perguntando dali, fuçando acolá e acho que achamos uma alternativa satisfatória.

Nossa nova rotina de fisioterapia começa amanhã. Será na mesma casa onde já vamos toda quinta-feira para a sessão de T.O. com a tia Suzane. Sua nova terapeuta chama Alexandra, ela trabalha para a Tereza Golinelio, que segundo a própria tia Suzane e às pesquisas da mamãe é fera. Fizemos uma avaliação com ela e gostamos bastante. Agora é ver como será daqui pra frente. Eu estou levando fé, filhote.

Até porque, filho, isso você vai aprender durante a sua vida, mudanças podem ser muito positivas. A mamãe adora sacudir a poeira de vez em quando. É bom para dar um gás novo, para conhecermos outras coisas, outras pessoas, outras técnicas. É como começar de novo, mas não do zero. É uma injeção de gasolina, de ânimo. Enfim, faz bem.

Na pior das hipóteses, a gente volta ao que era antes. Volta a pedir arrego para a tia Eliane. Nada é definitivo, Antonio. Tudo na vida é tentativa e erro. Com você tem sido assim desde que iniciamos aí nosso caminho cascudo. Seja em relação a médicos, remédios, terapias, brinquedos, acessórios... Uma hora a gente acerta. Ou melhor, cada coisa tem sua hora certa. E, talvez, essa era mesmo a hora de mudar.

Mamãe deixa aqui um beijo enorme, com muito carinho para a tia Eliane. Eu e você seremos gratos a ela para sempre. Ela já faz parte da nossa história. Que agora está iniciando um novo capítulo. Boa sorte para gente, filho. A gente merece.