Atenção!

"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".



sexta-feira, 21 de junho de 2013

Zé, o Jacaré

Filhotinho... a coisa aqui não anda muito boa pro nosso lado. Estamos numa maré de viroses, resfriados e "ites" que não é brincadeira não! Faz mais de um mês que estamos 'trabalhando' em esquema de revezamento. Você, eu, seu pai e sua irmã. É um tal de um passa pro outro que não acaba mais. Febres, dores, chatices, irritações... Um monte de coisa junta que nos tirou totalmente da rotina neste mês de junho. Duas semanas sem ir à escola; terapias furadas; e cansaço geral da nação. Lá fora, protestos por todo Brasil.

E aí, em dias de caos, mamãe aqui tem que exercer a criatividade. Pra não deixar a peteca cair. Aliás, essa não é uma opção. Jamais!

Bem, ontem, na saída do banho - que é algo que você gosta, mas que na atual circunstância não tem dado resultado - tive que rebolar pra te fazer parar de chorar e ficar um pouquinho só que fosse sem reclamar... E, assim, nasceu a história do Zé, o Jacaré. Em homenagem à toalha que você estava usando.

muito do injuriado...























                                                            Zé, o Jacaré

Zé, o Jacaré, morava na lagoa com a Moa, a Jacaroa.
Um belo dia, ele resolveu dar um passeio e encontrou com Mano, o Pelicano.

- Bom dia, Zé Jacaré. Vai aonde assim tão animado?
- Bom dia, Mano Pelicano. Vou visitar minha prima Carolina, ali naquela casa da esquina.

- Ela mora numa casa? Uma jacaroa, numa casa?
- Não... Minha prima Carolina é uma menina.

- Quê? Onde já se viu isso?
- Ih... Mano, Pelicano. A história é longa...

- Pode me contar. Prometo ficar de bico fechado!

- Bom, na verdade, meu nome é Andrei, o Rei. E eu comandava todo esse reinado. Até que um dia uma bruxa má jogou um feitiço na minha rainha. E a transformou em... jacaroa.
- Oh! Moa, a Jacaroa!?
- Sim. Ela mesma.

- Mas você não fez nada?"
- Ah fiz... Eu e Moa percorremos todo o reino atrás de uma bruxa boa.

- E aí? Ela não conseguiu desfazer o feitiço?
- Não. Ela disse que não podia desfazer um feitiço que não tinha sido ela quem tinha feito. E quando eu já ia embora cabisbaixo, ela disse: 

- Olha, eu não posso transformar a Moa em rainha de novo. Mas eu posso transformar você num jacaré!

E foi assim que Andrei, o rei, virou Zé, o Jacaré.

Moral da história: quando a gente não consegue fazer as coisas de um jeito, tenta de outro!


melhoras, meu amor. muito ruim te ver dodói...





segunda-feira, 17 de junho de 2013

Meu Polvo Favorito!

Título estranho, fantasia esquisita... mas juro que o post vai ser bem bacana, filhote!













Quero falar de como a vida pode ser mais fácil se em vez da gente se prender no que não é possível, dar asas à imaginação para o possível! Eu fiz isso. E a mãe do Daniel, ainda nosso amigo grandão, também. E considero nós duas muito bem sucedidas.

Bem, a mensagem é geral, mas o tema aqui hoje é: Apresentação na escola.

Quem assistiu a promo do filme "Educar para Incluir", link no post de baixo, viu que logo no comecinho tem o Daniel pequenininho, vestido de minhoca. Grande ideia! Assim, ele pôde efetivamente participar do teatrinho e representar muito bem o seu papel, se arrastando pelo palco. Ponto pra mãe do Daniel! E pra escola dele na época.

O fato é que pouco antes da ideia desse filme acontecer - ou seja, eu ainda não tinha visto nada -, passamos por uma situação parecida.

Seria a sua primeira apresentação na escolinha. Nada muito rebuscado. Apenas uma confraternização pelo término de um projeto sobre água. Você e seus amiguinhos dançariam ao som de uma música em inglês, vestidos de animais do mar.
cenário construído pela turma ao longo do projeto.
Quando recebi o recado na agenda, imediatamente me pus a pensar: que bicho você seria? Era livre. Eu podia escolher qualquer um.

Mas havia algumas limitações. A principal, o andador. Como te fantasiar de algo que não ficasse escondido pelo andador? Foi aí que me veio o pulo do gato! Eu não tinha que pensar na fantasia e, depois, no andador. Eu precisava pensar numa fantasia considerando o andador! Já que ele funciona como uma extensão sua.

E assim nasceu o Antonio Polvo! Tudo muito simples. Pesquisado rapidamente na internet e feito numa toalha velha pela talentosa vovó Zita. Ficou ótimo! Um capuz com olhinhos e os tentáculos caindo em volta do andador. Um sucesso.
minha irmã comparecendo.






















Mas onde eu quero chegar mesmo é na minha, na nossa, maturidade emocional. Fiquei orgulhosa por me tocar depois, no momento em que vi o vídeo do Daniel, que em nenhum instante eu fiquei me lamentando por ter uma tarefa um pouco mais complexa que a das outras mães. Não me deprimi à toa, caindo numa armadilha boba de que meu filho não é como as outras crianças... Como vou fantasiá-lo... Coitadinho... etc etc etc.




Pelo contrário. Curti o exercício da criatividade. Principalmente pelo resultado. Todos gostaram. Todos foram te ver. E posso dizer com propriedade que a sua primeira apresentação foi pra mim exatamente como foi para as outras mães. Estávamos todas felizes, orgulhosas e de máquinas fotográficas ou celulares em punho.

vovó Zita e Tia Cris!
papai presente!

Você não era diferente. A não ser pela fantasia, que arrasou!


terça-feira, 11 de junho de 2013

Segunda Etapa na Escola

"- Não consigo entender a resposta dele."
"- Mas como é que você está perguntando?"


Filho, hoje mamãe quer falar sobre como andam as coisas na escola.

Bom, no geral, está tudo indo bem. Mas acho que esse período inicial serviu principalmente para adaptação. Adaptação ao ambiente, às pessoas da escola, à mediadora, aos seus amiguinhos, à rotina, à nossa vida pós-colégio cheia de terapias... Enfim, foi um tempo para inserirmos o colégio em nossas vidas e nós na vida deles.

Feito isso, está na hora de darmos um segundo passo. O que estou querendo dizer? Bom, estou falando que agora que já conhecemos tudo e todos e todo mundo já te acolheu - de uma forma maravilhosa, é importante frisar - é o momento de te apresentarmos mais profundamente. De fazer com que as suas professoras, principalmente, te vejam, te entendem e - TE COMPREENDAM - mais. Porque por mais que a escola seja um ótimo lugar para socialização e estimulação, você também está lá para aprender. Como todos os outros alunos.

Tarefa simples? Não. Pois se para nós, que te conhecemos desde sempre, ainda é complicado achar maneiras e estratégias eficazes de comunicação, imagina pra quem tá chegando agora?!

Mas... temos uma tia Miryam Pelosi em nossas vidas e ela faz toda diferença. Em nossos atendimentos contínuos com certeza, mas ainda mais quando faz interferências pontuais. Semana passada ela foi lá na escola conversar com as suas professoras e foi tudo de bom. Porque ela consegue falar sobre qualquer coisa da forma mais clara e educada possível. Assim, nada fica por dizer e ninguém fica melindrado.

No seu caso, o foco principal foi justamente nessa questão de como saber se você está entendendo o que se passa na sala e se está absorvendo o conteúdo. Elas, compreensivelmente, estavam - estão - com dificuldade para obter respostas suas.

E foi pra isso que a tia Miryam foi lá. Pra tentar falar pra elas como fazemos nos atendimentos e como você tem dado essas respostas. E foi daí que surgiu o diálogo lá de cima. Tia Miryam tentou explicar que pra que você consiga responder é muito importante que quem esteja falando com você saiba perguntar.

Deixa a mamãe explicar: obviamente não adianta perguntar coisas muito complexas ou subjetivas demais para pessoas que não conseguem se comunicar verbalmente. Ou seja, é preciso tornar essa pergunta o mais objetiva possível. E quanto mais transposta para o concreto melhor. O que é transportar para o concreto? É tornar a coisa visual ou tátil, além de falada. Por fim, é preciso trabalhar com escolhas. Sempre. Pergunta da professora: "Ah, então é tudo multipla-escolha?" Sim, é por aí.

Exemplo: Se eu quero saber qual bicho você mais gosta, eu pergunto: Antonio você gosta mais de cachorro ou de gato? E mostro uma figura de cada. Sempre dando opções já inseridas na pergunta. Essas figuras podem estar numa mesa, na minha mão, no seu comunicador, no chão... O importante é que estejam numa posição em que dê para você olhar e eu ver você olhando. Porque você dá as respostas muito rápido e sempre primeiro olhando para elas. De uns tempos pra cá, tem inclusive usado uma estratégia mais consistente que é olhar para a figura escolhida e depois olhar pra quem te perguntou. Como quem diz: é essa aqui, fulano. Num segundo momento, você tenta levar o braço pra pegar a figura escolhida. Mas é importante não perder essa resposta inicial porque se não você fica irritado. O que acontece é que enquanto você tenta levar o braço, já vamos conversando e te dizendo que entendemos o que você respondeu.

Perguntas em que a resposta seja sim ou não também já acontecem. E o que você tem usado para responder é sorriso para sim e beicinho para não. Mas nem sempre funciona. Acho que porque às vezes você não compreende muito bem o que estamos perguntando. Uma coisa que usamos bastante é uma espécie de indicativo. Assim: Antonio, se você quiser ficar mais um pouco no pula-sapinho, dá um sorriso. E funciona! muito bem. Há horas em que você está abrindo o berreiro e quando eu falo isso, você dá lá um sorriso amarelo que seja, para mostrar o que quer.


Ou seja, que você entende coisa pra caramba está mais do que provado. Nossos esforços têm sido mesmo pra te ajudar a demonstrar isso. E o maior desafio é 'ensinar' e provar a terceiros a sua capacidade.

Peguei o pato!
Mas estamos no caminho. Com a tia Miryam na liderança. Confia em mim, filho. Estamos bem. Agora é preciso paciência e torcer para que a boa vontade já demonstrada por todos na escola continue também nessa segunda etapa. E que um esforço verdadeiro para te compreender aconteça. Tudo indica que a coisa vai nessa direção. Tia Aline, tia Lizandra e cia gostam bastante de você e se mostraram bem interessadas em ajudar nesse processo lindo de aprendizagem especial. Acho que ganhamos mais parceiros na nossa luta.

No mais, é a mamãe aqui ficar em cima de todos os envolvidos para que a coisa ande e flua. Esse é meu papel. Cuidar para não deixar essa vontade ir embora. Como eu posso fazer isso? Estando em contato direto sempre, cobrando numa boa as promessas feitas como o adiantamento de atividades semanal para a mediadora, enviando vídeos seus mostrando como nos comunicamos em casa... É isso. Falando, mostrando, criando, intercedendo...

Exemplo filmado abaixo de como a tia Miryam obtem boas respostas suas:


Por fim, não poderíamos deixar de colocar aqui o link para o tal projeto muito bacana do nosso amigo Daniel. Um pedacinho já saiu do forno. Tomara que vingue e se transforme num documentário lindo e que ajude a mudar o cenário da educação especial no Brasil.

Com vocês, uma prévia de "Educar para Incluir":
Educar para Incluir