Atenção!

"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".



sábado, 19 de fevereiro de 2011

A Vida sem Crise

Tem tempo que a mamãe não faz um post desabafo aqui. O motivo, todo mundo sabe, estamos numa fase muito boa. Sem crise, Amém! Mas... ainda é tudo muito difícil, Antonio Pedro.

Sempre dizia para os meus botões que o dia em que você parasse de ter crises convulsivas, eu aguentaria qualquer coisa. Nada era pior do que te ver tendo trimiliques e não poder fazer muita coisa...

Bem, é verdade. Temos vivido dias de muito alívio. E não tenho dúvidas de que elas, as crises, são sim nossa assombração mór. Só que a vida sem crise, apesar de mais tranquila, continua. E, para nós aqui, vida sem crise ainda significa muita luta.

E a principal é a sua questão motora, claro. Questão essa que interfere em todas as nossas atividades do dia. Desde a hora de dormir até a noite do dia seguinte.

Bom, por onde começo? Pelas noites, então. Elas são bastante agitadas, pacote. É raro termos uma noite inteira de sono. Eu, você e o papai. Na maioria delas, você acorda bastante. E nossa última desconfiança é a de que seu problema de prisão de ventre é o maior culpado. Toda a sua parte gástrica, aliás, ainda é muito mal resolvida. E as consequências vão de soluços exagerados à prisão de ventre, que causa gases e muita cólica. Principalmente, à noite. E isso pode estar sim ligado à questão motora porque, geralmente, crianças hipotônicas também têm intestinos mais lerdinhos. Nesse bolo também entram: a dificuldade de coordenar mastigação e deglutição, o que torna as horas de papar um sacrifício, porque você fica realmente cansado; e também alguma coisa de queimação devido aos remédios que você ainda precisa tomar...

Pois é. Acho que já comentei aqui como a hora da comida parece um verdadeiro circo armado aqui em casa, com a vovó dançando, a Galinha Pintadinha tocando, a Miriam jogando bola, a mamãe pulando com você no colo... Tudo para você se distrair e comer mais rápido, para não corrermos o risco do cansaço te vencer. Sempre que está chegando a hora de comer, eu rezo um Pai Nosso, tamanho o frio na barriga que eu sinto... É muito cansativo, filho. Principalmente por causa da pressão psicológica de que você precisa comer porque não está ganhando peso direito, porque gasta muita energia, porque está com um pouco de anemia, porque o cérebro precisa de nutrição para se recuperar. É dureza.

Bem parecido com isso tudo é também os momentos de tomar remédios e beber líquido. Você odeia. Tem aflição da coisa muito rala, cospe, deixa escorrer, engasga... E, cada vez mais, temos que te dar mais coisas. Essa semana, juntaram-se aos anti-convulsivantes, vitamiva C, vitamina K, Label e bolinhas de homeopatia, ferro e um pozinho pra prisão de ventre. A mamãe se vira. Junta o que for possível, mistura na comida, vai intercalando... Mas é um martírio e sempre tenho medo de deixar algum de fora, porque nem sempre consigo dar na hora programada e, depois, às vezes eu esqueço. Beber água, água de coco ou suco, tem sido na seringa ou jogando na sua boca, direto daqueles copinhos de três furos. Até está indo bem melhor que antes, mas, ainda assim, o volume diário é bem baixo. Cerca de 50ml no máximo. E o problema é que o pouco líquido ingerido também influencia na prisão de ventre e na sua fraqueza, já que você não chega a desidratar, mas o líquido no corpo é pouco...

Falando em fraqueza, uma anemia leve recém descoberta também explica porque você parece quase sempre muito cansado. E tem necessidade de dormir muito durante o dia. Foi por isso que o ferro entrou. Imagina só, pacote, pra você qualquer esforço demanda muito mais gasto energético do que para uma criança comum, porque você precisa mesmo se esforçar para fazer aquilo. Junte a isso o fato de que estamos num intensivão de estimulação com natação e aulas de música, linguagem, psicomotricidade... Isso além da fisioterapia, T.O. e fono. Enfim, seu gasto é o de um atleta e você come como um faquír... E a mamãe aqui tem que ficar o tempo todo colocando na balança o que é mais importante, do que você dá conta, o que está exagerado... É o problema matemático mais difícil que já tive que resolver na vida, filhote. E olha que eu era boa na escola.

Nossas idas à pracinha e brincadeiras em casa também representam uma verdadeira ginástica pra você e pra mim, que me viro como posso pra te dar o apoio necessário. Físico e psicológico.

Pausa.

Antonio Pedro, quanta ladainha, não? Tava cansada de escrever e fui reler tudo. Caramba, que mamãe mais reclamona. Olha, filho, a verdade é que ao reler tudo o que escrevi aqui agora até eu pensei: nossa, como é que eu aguento?

Aguentando, pacotinho. Simplesmente porque não paro para 'reler' meus dias. Faço o que é preciso. Às vezes, com um pouco mais de cansaço, mas nunca deixo de fazer nadinha por você. E juro que não fico reclamando. Confesso que fiquei com uma ligeira vergonha aqui de ter visto isso tudo aí que eu escrevi. Foi sem perceber, foi saindo. Mas, olha, te juro que a coisa parece muito pior assim quando lida. Na prática, a gente tem se virado bem. Pode acreditar.

Sabe, outro dia mesmo, eu e seu pai estávamos conversando no carro, sobre alguma coisa muito ruim que havia acontecido com alguém. Não lembro agora o quê, nem quem, mas o importante é que eu falei: 'como é que eles aguentam? eu acho que não aguentaria'. E aí, ele me disse: 'aguentaria sim. quanta gente você acha que não se pergunta a mesma coisa sobre a gente. e a gente não aguenta? então, a gente se adapta'.

E é isso aí, Antonio Pedro. A gente se adapta. Nos adaptamos a você. Essa é nossa vida agora e não conseguimos mais imaginá-la diferente. Com todas as limitações, todas as dificuldades, todos os obstáculos. E, sim, com tudo de bom também que ela representa. Porque você, meu amor, mesmo com tudo isso aí de bagagem complicada, cosegue ter ainda mais coisas encantadoras. Mamãe te ama.

8 comentários:

  1. Oi querida... meu coração fica apertadinho toda vez que leio seu blog. Doi muito para mim que tem 2 meninos e saudaveis. O meu João tem quase a mesma idade do seu pacotinho, nasceu dia 22-12-2009. E o Arthur tem 4 anos. O nascimento do Arthur também foi super traumatico para mim, mas graças a Deus sem sequelas. Ficou na Uti pelo mesmo tempo que o seu Antonio ( foram duas internações seguidas, uma após nascer e depoois outra dois dias depois que chegarmos em casa). Só uma mae que volta para casa sem o seu bebe conhece essa dor. Pelo trauma acabei meu fazendo meu segundo pre natal com a Dra. Isabella, e foi TUDO PERFEITO. Ela é um doce e muito segura no que faz. Tenho certeza que um dia vc vai escrever essa historia diferente também e seu pacote vai superar toda essa dor.Estou na torcida aqui por vcs. Meu email é isabela.cypriano@gmail.com.
    Bjs
    ( pedi add no seu perfil do facebook)

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  2. Filho, não liga pra mamãe não, de vez em quando ela dá umas fraquejadas mas não é nada sério.
    Na verdade apesar das dificuldades acredito q temos muita sorte. Podíamos ter uma rotina muita mais complicada. Depois da experiência do CTI e q afastamos uma série de hipóteses terríveis sobre seu desenvolvimento neurológico nada parece difícil ou impossível.
    Talvez por não estar com vc 24h por dia como sua mãe, por ter tido ao longo da vida vários momentos (q julgava) difíceis ou de sofrimento acabou sendo mais fácil pra mim.
    Só sei q continuo acreditando em vc, na sua felicidade e na nossa. Tenho uma fé inabalável nisso. Estamos só no início do início de nossa caminhada juntos e vamos ter q ter muita paciência. Tudo vai acontecer ao seu tempo.
    Apesar de serem só 15 meses parece q já estamos juntos há uma eternidade, q vc é muito mais velho do q realmente é por isso acabamos meio ansiosos pela sua evolução.
    Só pra vc saber perguntei pra sua mãe outro dia se ela queria trocar vc por outro neném, sem nenhum probleminha e é claro q ela não topou, sabe pq? Pq vc é o q temos de mais valiosos em nossas vidas e nada vale mais q a alegria de ver o seu sorriso.
    É isso, amor incondicional puro.
    Bjo
    Papai

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  3. Dá muita força pedir ajuda a nossos queridos diariamente, grande mãe. Faça sempre isso inclusive porque favorece a abreviar. Bs.

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  4. Dri, não tenha vergonha de suas palavras, de suas fraquejadas. Vc é humana, é mãe e qq uma teria esses momentos - talvez até mais do que vc. O seu pacotinho está um pacotão, hein. Muito lindo, parabéns, um sorriso cativante mesmo. Força sempre.
    Beijos, Fê

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  5. Ai...minha cabeça tá a mil, meu coração também.Nem sei mais o que dizer...esse texto foi excelente , como sempre muito verdadeiro e nada que eu fale aqui vai chegar aos pés do que vc relatou. Não dá pra competir...rsrsrsr
    Amanhã escrevo sobre este texto.
    bjss

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  6. Oi, voltei! Ainda estou com a imagem do AP tentando andar na praia, mas tudo bem. Vamos lá! Vamos prosseguir!
    Sem dúvida Adriana, a vida de uma mãe de um pacotinho como o AP é uma luta enorme! É literalmente viver um dia de cada vez, vencendo batalhas diariamente.
    Mas o que chama atenção aqui é a sua capacidade de trabalho! Vc é forte como um trator! Uma "mãe-dinossauro", impecável, que desempenha sua função materna da forma mais intensa possível.
    Tudo bem que a gente se adapta às coisas...cria forças...se acostuma com tudo...mas vc, se supera a cada dificuldade. E ainda tem tempo de nos dar uma aula de "como dedicar-se a um filho" !
    Por isso é que também tem que ter quem cuide de vc, quem se dedique a vc, pois ninguém aguenta só dar,dar,dar e não receber . Tem que ter um retorno.
    Felizmente vc tem uma família maravilhosa que te ajuda, te apoia e um marido-pai sensacional.
    Então, nunca ache que seu desabafo é uma ladainha chata, pois nós estamos aqui para ouví-la! para te dar o retorno de que vc precisa. Essa é a nossa parte! É como a gente pode ajudar...e acredite, a gente gosta!
    E se for ladainha, e daí?! Vc tem direito de dar uma reclamada...vc não é de ferro! Não precisa aguentar tudo calada. Ninguém vai te julgar por isso.
    Bota a boca no trombone que a gente "guenta"! Amigo de blog é pra essas coisas! rsrsr
    Um beijo!

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  7. Nana,
    Minha filha, conheço bem o seu dia a dia e sei que é dureza. Por isso não se preocupe nem se envergonhe de desabafar sempre que precisar. Faz bem, alivia a alma. Eu estarei sempre pronta pra te ouvir aqui e pessoalmente procurando dar todo o apoio que precisar. E assim como eu, tenho certeza que a sua volta existe muita gente que te admira, que reconhece a sua força e tb estará sempre disposta a te recompensar com muita amizade, apoio e carinho.
    Beijo grande,
    Mamãe

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  8. Oi Dri lendo esse seu texto lembrei de a 2 anos atrás com meu filho Guilherme doente, eu não tinha um blog ainda então fiz um caderno, pois precisava relatar sua rotina para os médicos, então escrevi nesse caderno tudo o que aconteceu durante e após o seu tratamento, suas falas eram as as minhas, sabe mais passou,hoje meu Gui esta com 2 anos e 8 meses esta saúdavel e bagunceiro, sei que as dificuldades são bem diferentes mais precisamos ter fé, desabafe sim grite para Deus te ouvir e vir ao seu favor, parabéns por sua garra, Thais.

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