Atenção!

"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Praticando o Desapego

Oi filho...

ai, meu amor, mamãe tá tão angustiada. Sabe, na vida você vai passar por algumas situações em que sabe que não está agindo totalmente certo, mas será difícil fazer diferente.

Bem, sem embromações, o que acontece é o seguinte: a mamãe está se sacrificando mais do que devia nesses últimos dias. Só que o problema é que é por você... Aí, não tô conseguindo parar.

E o pior é que recebo bronca de todo lado. Seu papai, por exemplo, tá bem irritado comigo. Ele acha que eu não devo mais deixar você dormir em cima de mim e nem que eu possa ficar andando com você no colo em pé. Por causa do peso na barrigona da Marina. Segundo ele, eu tenho que deixar que as pessoas me ajudem e que se virem com você.

Olha, filho, ele tem um pouco de razão. E eu juro que eu tento sempre aceitar ajuda quando eu acho possível. Da tia Janete e tia Carmen e da vovó Tella, principalmente. Mas têm horas que não dá. Ainda mais assim, quando você está doente ou com dor, como na noite passada.

Vovó dormiu aqui e tudo, mas quem disse que você queria dormir com ela? Não queria ninguém que não fosse a mamãe. Nem o papai, que você até costuma acalmar depois de um tempinho, tava dando jeito. E aí, eu não consigo. Enfrento todo mundo, deixo que briguem comigo, mas cato você e me viro nos trinta pra conseguir ficar com você, tentando sentir o menor desconforto possível por causa da barriga. Fico andando e sentando pra não pesar muito. Quando você, enfim, dorme, sento e quando sinto que dá, vou mudando de posição para forçar menos a barriga e conseguir respirar melhor. E vou tentando estripulias como hoje à noite, quando consegui que você ficasse com o corpinho na cama e só a cabecinha no meu peito.

Fico cansada, é verdade, toda quebrada, mas meu coração se acalma. Me sinto muito pior ao deixar você se esgoelando, com aquele choro que hoje conheço muito bem e sei que é de dor. Isso me mata e não tenho sangue frio pra não fazer nada.

Mas, ao mesmo tempo, é muito ruim ver o papai triste e chateado comigo. Ele está muito preocupado com a sua irmã. Está morrendo de medo que eu acabe entrando em trabalho de parto prematuro e que ela fique na UTI, como você. E eu fico péssima quando ele senta pra conversar comigo e diz essas coisas todas sem parar. Como se ele estivesse me alertando de que se algo de ruim acontecer com ela, a culpa vai ser minha... E, filho, eu nem sei como me sentiria se isso realmente acontecesse. Não quero nem pensar.

Sei lá, Antonio Pedro, eu vivo meio que de acordo com a sorte, sabe? Fico tentando achar que algo ou alguém vai me proteger do mal, porque o que estou fazendo é para o seu bem. Prefiro acreditar que estamos a salvo de uma desgraça ou acontecimento ruim. Já passamos por tanta coisa... É como se merecêssemos que desse tudo certo desta vez.

É claro que eu sei que na vida a gente precisa colaborar, que não dá pra deixar tudo na mão de Deus ou do destino, mas, pra mim, estou fazendo a minha parte que é, como eu disse, tentar ser razoável à medida do possível. Claro que se eu estiver sentindo dor ou alguma pressão maior na barriga, vou fazer algo à respeito. Não sou nenhuma doida. Se eu achar que tem algo errado, imediatamente, tentarei consertar. Só espero que isso seja suficiente...

No mais, ainda que achem que é pouco, na minha opinião, estou sim aprendendo a receber ajuda e a te deixar mais com outras pessoas. Falei disso outro dia, pôxa. Tento descansar durante o dia. Deixo você dormir à tarde com as tias, na maior parte das vezes, mesmo que você dê umas reclamadas no início. Saio e consigo não ligar pra casa! Exames e consultas da Marina estão em dia e nunca deixei de ligar para a Dra. Isabella se eu desconfiasse minimamente de alguma coisa.

Enfim, filhos, estou fazendo o melhor que posso para não prejudicar nenhum dos dois. Sou assim. Enquanto eu tiver forças, filho meu não vai sofrer. Não se tiver algo que eu possa fazer ou, pelo menos, que eu ache que possa fazer. Tenho certeza de que quando a Marina estiver do lado de fora, agirei assim com ela também e vou sim me transformar em duas, se necessário, para acudir os dois ao mesmo tempo quando for preciso.

Que o seu pai me perdôe, mas colocarei sempre vocês em primeiro lugar. Mesmo que ele não entenda muito bem meu mecanismo e nem engula as minhas justificativas.

beijo da mamãe.

Brincando com a mamãe:













5 comentários:

  1. Entendo perfeitamente. Eu era EXATAMENTE igual com a Malu. No dia anterior ao nascimento do João, eu estava com ela no colo e ela pesava 13kg. Na semana anterior dei banho de chuveiro e pegava ela no colo durante o banho. Tb não sentia nada da gravidez, por isso extrapolava. Eu levava bronca das pessoas na rua, tem noção? hahahahhahaha!
    Mãe é mãe, homem não vai entender isso nunca.
    Mas olha, isso só vale porque ele tá doentinho. Assim que ele melhorar delega um pouco mais as coisas, é importante se poupar. Vc vai passar por um período BEM cansativo quando ela nascer. Fora que mexe com nosso emocional tb, ter que se dividir entre 2 filhos. Claro que em 1 mês estamos craques, mas o começo é mais punk. Beijão

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  2. Ô gente! Que angústia essa...

    Os dois merecem demais você se virando nos 30, mas tenho certeza que os dois entendem os momentos necessários de descanso.

    Seu cuida!

    Bjs!!!!!

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  3. Querida Adriana,

    ouvi de uma médica na UTI que Deus não dá duas cacetadas na mesma cabeça e venho vivendo assim, acreditando que já recebi a minha cacetada. Acredito que vc tbe já teve o seu quinhão de sofrimento e falo de carteirinha que não delego a Helena. Trabalho, estou terminando o doutorado e não deixo que ninguém a acompanhe a nenhuma terapia, nem dê banho, nada...não sei se é bom ou ruim, sei que não adianta ninguém falar, não está em nós, vai além de nós...é maior, mais forte. Assim começarei hoje uma novena pela Marina e outra por vc. Deus providenciará o seu descanso nos momentos oportunos e revigorará suas forças, protegerá a Marina e não deixará que nada a atinja. Segue a minha solidariedade e com certeza orações dobradas, melhor triplicadas...melhor ainda multiplicar por quatro, já que vcs são quatro...bjos

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  4. Abençoada mãe! A minha história é semelhante a sua e te entendo perfeitamente,tenho um filho especial e estou na minha segunda gravidez.Choro quando leio seus depoimentos. É isso mesmo! Mãe é mãe tira forças de onde não tem e pelo nossos filhos fazemos tudo além da nossa capacidade e Deus não nos desampara.Continue essa mãe brilhante que vc é e com certeza colherá os frutos desta sua dedicação.

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  5. Adri, sabe a estorinha da máscara de oxigenio que quando cai você coloca primeiro a sua e depois a da criança ao lado, procure pensar um pouco nisso amiga, você tem que se cuidar pra cuidar dos seus pimpolhos que precisam muiiiiito de você, e quanto melhor vc tiver, mais proveitoso pra eles será. Fato, é um exrcício mesmo esse lance de delegar...mas a gente consegue ;) aos pouquinhos

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