Atenção!

"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Do seu Jeitinho

Pitoco,

o intuito deste post era só colocar uma video cassetada que aconteceu conosco há pouco tempo na pracinha. Mas revendo aqui agora me deu vontade de falar sobre uma coisa: o jeitinho que você dá para conseguir realizar certas tarefas.

Sabe Antoninho, quando a gente recebe a notícia de que o filho teve problemas de oxigenação no cérebro ao nascer, isso está ainda muito distante do entendimento real do que isso significa ou possa significar no futuro. Nem o diagnóstico Paralisia Cerebral, que fatalmente será falado em algum momento recente após o nascimento, faz cair toda a ficha. É preciso um tempo precioso - acho que cada casal tem o seu - para que a gente vá assimilando, aprendendo, se informando e sendo informado das mais prováveis e das possíveis sequelas que farão parte da nossa vida. Hoje eu vejo como nem adianta mesmo ter pressa para querer saber de tudo o que pode acontecer porque além do fato principal de que ninguém - nem os médicos - sabem, é melhor mesmo irmos nos apaixonando e nos acostumando com cada pitoquinho do jeito que ele é.

Pelo menos, foi assim comigo.

A cada nova informação ou nova pesquisa realizada no Mr. Google, eu ficava em cólicas, pensando se aquilo aconteceria com você ou não. Perdi a conta de quantas noites de sono desperdicei imaginando se e quando você ia engatinhar, sentar, andar. Isso aconteceu, principalmente, no seu primeiro ano de vida. A expectativa era muito alta, a insegurança, o medo eram apavorantes e uma parte considerável do tempo que passávamos com você ou te levando a novas consultas ou terapias eram carregadas de dúvidas e ansiedade. Toda criança comprometida que eu cruzava na rua, eu pensava em você do mesmo jeito. Era muito sofrido imaginar as piores consequencias. Sofrido e inevitável, naquele tempo.

Foi preciso tempo mesmo - de novo, olha ele aí. - para que a gente fosse naturalmente se acalmando, baixando a bola e passasse a te curtir, sem pensar tanto no que você conseguiria e sim no que você estava conseguindo. A essa altura, você já havia nos conquistado por ser você. Mesmo sem passar por etapas importantes que ouvimos falar tanto de todas as crianças, como a primeira vez que o filho fala mamãe ou papai, os primeiros passinhos, aprender a bater palminhas... Mesmo assim, você se fez presente. Nos deu inúmeras alegrias, arranjou um jeito de mostrar o quanto nós éramos importantes pra você, e fez as suas gracinhas que podem sim ser comparadas à emoção das primeiras palavras ou passos.

E aí, resultado: hoje nós somos totalmente loucos por você. E isso fez com que os mais obscuros temores do passado, não sumissem, mas ficassem bem menos dramáticos de ser encarados. Porque aconteça o que acontecer, ande você ou não, é totalmente diferente imaginar hoje a possibilidade de te ver numa cadeira de rodas ou andando com muita dificuldade do que já foi lá atrás. Não importa como você estará exatamente e sim que sempre teremos você.

Nossa, eu me lembro bem de como eu tinha esperanças de que você ficasse totalmente curado e 'normal'. Falávamos isso para as pessoas, inclusive. Sempre que o assunto era você, a gente terminava dizendo sobre as suas chances muito boas de se recuperar 100%. Como se achássemos que estávamos vivendo temporariamente num mundo que não tinha nada a ver conosco e que já já sairíamos dele. Uma espécie de negação defensiva para suportarmos uma realidade que nos pegou desprevinidos. Achávamos sempre que você estava muito melhor que outras crianças em situações parecidas e vivíamos te comparando até com crianças sem problema nenhum, achando que em alguns quesitos você estava à frente delas!

Sei que falando assim parece que papai e mamãe eram uns loucos arrogantes. Não éramos, filho. Juro. Éramos apenas dois pais sem saber muito bem como lidar com uma dor que não tinha um fim definido. Tudo o que fizemos, o que sentimos e o que falamos sobre e por você era com a mais pura sinceridade, pelo menos, a que podíamos ter na época.

Por isso, não me sinto mal ou me arrependo por nada que eu possa ter dito ou sentido. Me entendo totalmente, por mais egocêntrico e estranho que isso possa parecer.

Mas o mais bacana disso tudo é no que nos tornamos hoje e era disso que eu estava falando. Agora, com quase dois anos ao seu lado, somos... não sei, acho que a palavra é mesmo FELIZES. Como se não houvesse mais nenhum tipo de impecilho forte o suficiente para atrapalhar nossa relação com você. O que era medo e angustia de antes, virou só uma esperança do bem de que realmente você ainda possa se recuperar e conseguir muita coisa. Mas aquele 100% tão repetido e importante para nós antes, não faz mais sentido. Não no que vá interferir no nosso amor gigantesco por você. É claro que se você ficar eventualmente sem sequela nenhuma, ou quase nenhuma, soltaremos todos os fogos de artíficio que conseguirmos. E todo o esforço que fazemos hoje continua sendo pra isso. O fato de não acharmos mais que isso é o mais importante não significa que desistimos ou desaceleramos na nossa rotina incansável de Rehab. De jeito nenhum! Mas não é mais o que ocupa nossos pensamentos e nos deixa sem dormir.

Hoje, filhote, me ocupo em pensar, em ficar feliz e em celebrar você, do jeitinho que você é, do jeitinho que você consegue fazer as coisas, da sua alegria de viver.

Foram dois anos que parecem, sei lá, uns 10, se eu for pensar em tudo o que esse tempo ao seu lado significou em aprendizado, em maturidade, em luta, em dor, em tristeza, em alegria mas, principalmente, em amor.

Eu te amo, Antonio Pedro. Parabéns, filho. Pra todos nós, acho.

A tal video cassetada. Não se preocupem que ele não caiu, nem bateu a cabeça. Mas levei um mega susto!


E aqui o tal jeitinho que inspirou a postagem. O jeitinho que você dá para se segurar no balanço. A gente tenta, tenta fazer você segurar com as duas mãos, uma em cada corda, mas você sempre termina segurando com as duas, sim, mas do mesmo lado... É como você consegue, oras!








4 comentários:

  1. Ai, ai Adriana, que coisa né? Tenho passado momentos de angústia indescritíveis, não porque a minha ficha já não tenha caído...a minha caiu faz tempo porque sei que as limitações que a Helena apresenta ou que apresentará no futuro não mudam em nada o que ela significa para mim e porque ser especial não é ruim é apenas diferente (sabemos que ninguém é igual). Mas, hoje, luto bravamente para que meu marido e as demais pessoas da família (todas!) tratem com naturalidade as diferenças e limitações da Helena, elas simplesmente acreditam que a Helena fará tudo que uma criança que não sofreu nada fará...e tudo bem se todos pensarem assim, e daí? Mas o que acontece é que a cada consulta, a cada exame e a cada terapia sou duramente criticada "ela precisa mesmo fazer isto? Ela não está ficando muito cansada! Você está exagerando!" Por isso até hoje não postei nada que explique que a Helena tem encefalopatia, leucomalácia periventricular e microcefalia...acredito que seria fatal (morreriam ou me matariam). Assim espero que, o mais breve possível, meu marido e minha família formem comigo uma parceria pelas melhorias possíveis da Helena, aquelas que do seu "jeitinho", como vc disse, ela vai conseguir, no seu tempo e dentro das suas possibilidades. Gosto de dizer que qualquer coisa que ela me oferecer e aprender é lucro porque o que ela já é e faz é excepcional...obrigada pela postagem...ela é encorajadora...bjos

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  2. Caramba Adriana, estava precisando ouvir cada palavra que você escreveu. A gente acaba se apaixonando pelo Antonio também :) quanto a minha caminhada com Matias, tenho tanto que aprender e é maravilhoso ter "parceiros" como vcs, essa troca é muito rica, obrigada.

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  3. Você não pode nos privar das suas palavras. É um eterno aprendizado pra mim.
    Bjus
    Vai sair um livro daqui?
    bjus, Fê

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  4. Não foi só Antonio que veio nesse mundo para nos ensinar, você também ! Parabéns MIL vezes pelos 2 anos do Antonio e por você ser essa mãe tão maravilhosa, que com suas palavras consegue nos levar para a vida de vocês.
    Ass: Luciene Pipe mãe da Manu

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