Atenção!

"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".



segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Estragadinho da Estrela

Então, nenengo, o Natal tá vindo aí e a mamãe tá pensando em te sugerir de modelo para a criação de um novo boneco: o Estragadinho da Estrela. Com essa carinha linda que Deus lhe deu, eu duvido que o negócio não fosse campeão de vendas!

Oh, meu amor... não zanga com a mamãe não. É que eu fico sim brincando com você o tempo todo em cima das suas/nossas dificuldades. Como eu já falei aqui, a mamãe acredita mesmo na filosofia de que 'rir' é o melhor remédio. E assim a gente vive brincando e te chamando de mamulengo e bonecão do posto; cai na gargalhada quando você dá um impulsão com a perna e consegue se sustentar 5 segundos lá no alto, mamãe chama essa 'manobra' de Salve-se quem puder; e agora te dei esse outro apelido de Estragadinho da Estrela.

Juro que essa 'prática' está bem longe do mau gosto. Pelo contrário, mamãe brinca com todo o carinho do mundo. Pra mim, cada coisa 'engraçada' que você faz, que você tenta, é como se fossem as coisas normais que os nenéns também fazem cada um a seu jeito. Com a diferença de que o seu jeito é ainda mais especial, comemorado e aguardado, já que não representa uma simples evolução da vida e sim uma importante evolução pessoal.

Tenho andado assim meio pensativa porque, como também comentei aqui, está se aproximando o seu 1º aniversário. Dia 09 de novembro, você faz um aninho. E aí, mamãe tem lembrado de como eu achava que seria difícil encarar o fato de você ser possivelmente uma criança bem mais atrasada em relação às outras.

Na época, eu te conhecia muito pouco. Não sabia quase nada ainda a respeito da sua capacidade e nem da sua real limitação. Mas lembro bem de que eu só conseguia pensar em como seria você não estar andando quando eu te colocasse no coleginho; você não conseguir correr na pracinha com as outras crianças; não conseguir comer sozinho; pintar seu livro de colorir; ou sentar na cadeirinha do restaurante.

Bom, continuamos sem poder bater o martelo a respeito do seu prognóstico. Ou seja, ninguém pode afirmar com certeza o que você irá ou não conseguir fazer. Mas hoje mamãe te conhece como a palma da mão e sabe que a sua capacidade é infinita. Mais do que nunca, agora, eu entendo o que a tia Laís quis dizer quando falou que você conseguiria fazer o que quisesse, que só dependia de você. E de mim.

Bem, pacotinho, não é por nada não, mas temos feito uma dupla imbatível. Somos unha e carne e confiamos cegamente um no outro. Acho difícil não chegarmos onde quisermos. Mamãe tá falando do fundo do coração. Se eu não acreditasse que pra nós o céu é o limite, eu nunca conseguiria estar escrevendo isso aqui pra você. Simplesmente porque desde muito cedo, mesmo que você ainda não entenda muita coisa, decidi que nunca vou esconder nada de você sobre a sua história. Mamãe vai sempre te falar a verdade. Mesmo que eventualmente ela doa.

Já me peguei pensando em como eu me comportaria diante de uma situação em que, por exemplo, você me perguntasse quando é que você vai poder andar de bicicleta ou de patins... Bem, filhote, a resposta seria muito clara: não sei, mas a gente vai fazer de tudo para conseguir o mais rápido possível.

O que eu mais quero é que você confie em mim e me ajude sempre a te ajudar. E se, hoje, pequenininho desse jeito, você já demonstra uma força de vontade imensa, tem um poder de observação admirável, imagina o que será capaz quando realmente entender o que estaremos te pedindo. E isso está muito próximo, filhote.

E é aí que eu queria chegar: queria falar de mudança de perspectiva. Acho que isso pode ajudar e confortar muito outras mães que ainda estão no início do caminho e, por isso, ainda bastante abaladas e temerosas.

Enfim, quando me vi com um bebezinho lindo no colo com o diagnóstico de comprometimento motor, só conseguia pensar exatamente nisso: como esse bebezinho lindo tem atraso motor, meu Deus? O que eu vou fazer? Como é que vai ser? Será que ele vai andar?...

Hoje, já totalmente adaptada à condição especial do meu filhote, minhas perspectivas estão também devidamente de acordo. O que quero dizer é que não fico mais me lamentando porque ele fará um ano e ainda nem senta sozinho. Meu foco se ajustou e se prende em coisas como o que eu falei, em como está cada vez mais próximo o momento em que ele vai compreender que o exercício 'x' que estamos fazendo é para que ele consiga sentar e no quanto de ganho teremos graças a essa compreensão.

Cada criança especial vive uma situação especial. Por isso, cada mãe terá uma perspectiva específica, mas minha conclusão geral é a de que dificilmente sofreremos o que achamos que vamos sofrer quando 'daqui a um ano' nosso filho não estiver andando ou seja lá qual for nossa expectativa. É que durante esse um ano, aprenderemos a enxergá-lo de forma diferente. A ele, a capacidade dele e, principalmente, a nossa capacidade de lutar ao lado do que vai se transformar na razão da nossa exsitência.

Amo você, meu estragadinho. Mais que tudo no mundo.

Um comentário:

  1. Importante é esse agora particularmente maravilhoso. Tão maravilhoso que é capaz inclusive de alterar o depois, aos cuidados de nosso criador.

    Como você se sentiria em nosso criador vendo o desempenho seu e dele? O que sentiria quanto à conformação corajosa e compartilhada para ajudar outros em situações tais? Em ver o esforço dele intuitiva e empenhadamente acompanhando o seu? O que acharia desse espírito de esportiva na dureza das circunstâncias?

    Bonança à vista!

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