Então, nenengo, o Natal tá vindo aí e a mamãe tá pensando em te sugerir de modelo para a criação de um novo boneco: o Estragadinho da Estrela. Com essa carinha linda que Deus lhe deu, eu duvido que o negócio não fosse campeão de vendas!
Oh, meu amor... não zanga com a mamãe não. É que eu fico sim brincando com você o tempo todo em cima das suas/nossas dificuldades. Como eu já falei aqui, a mamãe acredita mesmo na filosofia de que 'rir' é o melhor remédio. E assim a gente vive brincando e te chamando de mamulengo e bonecão do posto; cai na gargalhada quando você dá um impulsão com a perna e consegue se sustentar 5 segundos lá no alto, mamãe chama essa 'manobra' de Salve-se quem puder; e agora te dei esse outro apelido de Estragadinho da Estrela.
Juro que essa 'prática' está bem longe do mau gosto. Pelo contrário, mamãe brinca com todo o carinho do mundo. Pra mim, cada coisa 'engraçada' que você faz, que você tenta, é como se fossem as coisas normais que os nenéns também fazem cada um a seu jeito. Com a diferença de que o seu jeito é ainda mais especial, comemorado e aguardado, já que não representa uma simples evolução da vida e sim uma importante evolução pessoal.
Tenho andado assim meio pensativa porque, como também comentei aqui, está se aproximando o seu 1º aniversário. Dia 09 de novembro, você faz um aninho. E aí, mamãe tem lembrado de como eu achava que seria difícil encarar o fato de você ser possivelmente uma criança bem mais atrasada em relação às outras.
Na época, eu te conhecia muito pouco. Não sabia quase nada ainda a respeito da sua capacidade e nem da sua real limitação. Mas lembro bem de que eu só conseguia pensar em como seria você não estar andando quando eu te colocasse no coleginho; você não conseguir correr na pracinha com as outras crianças; não conseguir comer sozinho; pintar seu livro de colorir; ou sentar na cadeirinha do restaurante.
Bom, continuamos sem poder bater o martelo a respeito do seu prognóstico. Ou seja, ninguém pode afirmar com certeza o que você irá ou não conseguir fazer. Mas hoje mamãe te conhece como a palma da mão e sabe que a sua capacidade é infinita. Mais do que nunca, agora, eu entendo o que a tia Laís quis dizer quando falou que você conseguiria fazer o que quisesse, que só dependia de você. E de mim.
Bem, pacotinho, não é por nada não, mas temos feito uma dupla imbatível. Somos unha e carne e confiamos cegamente um no outro. Acho difícil não chegarmos onde quisermos. Mamãe tá falando do fundo do coração. Se eu não acreditasse que pra nós o céu é o limite, eu nunca conseguiria estar escrevendo isso aqui pra você. Simplesmente porque desde muito cedo, mesmo que você ainda não entenda muita coisa, decidi que nunca vou esconder nada de você sobre a sua história. Mamãe vai sempre te falar a verdade. Mesmo que eventualmente ela doa.
Já me peguei pensando em como eu me comportaria diante de uma situação em que, por exemplo, você me perguntasse quando é que você vai poder andar de bicicleta ou de patins... Bem, filhote, a resposta seria muito clara: não sei, mas a gente vai fazer de tudo para conseguir o mais rápido possível.
O que eu mais quero é que você confie em mim e me ajude sempre a te ajudar. E se, hoje, pequenininho desse jeito, você já demonstra uma força de vontade imensa, tem um poder de observação admirável, imagina o que será capaz quando realmente entender o que estaremos te pedindo. E isso está muito próximo, filhote.
E é aí que eu queria chegar: queria falar de mudança de perspectiva. Acho que isso pode ajudar e confortar muito outras mães que ainda estão no início do caminho e, por isso, ainda bastante abaladas e temerosas.
Enfim, quando me vi com um bebezinho lindo no colo com o diagnóstico de comprometimento motor, só conseguia pensar exatamente nisso: como esse bebezinho lindo tem atraso motor, meu Deus? O que eu vou fazer? Como é que vai ser? Será que ele vai andar?...
Hoje, já totalmente adaptada à condição especial do meu filhote, minhas perspectivas estão também devidamente de acordo. O que quero dizer é que não fico mais me lamentando porque ele fará um ano e ainda nem senta sozinho. Meu foco se ajustou e se prende em coisas como o que eu falei, em como está cada vez mais próximo o momento em que ele vai compreender que o exercício 'x' que estamos fazendo é para que ele consiga sentar e no quanto de ganho teremos graças a essa compreensão.
Cada criança especial vive uma situação especial. Por isso, cada mãe terá uma perspectiva específica, mas minha conclusão geral é a de que dificilmente sofreremos o que achamos que vamos sofrer quando 'daqui a um ano' nosso filho não estiver andando ou seja lá qual for nossa expectativa. É que durante esse um ano, aprenderemos a enxergá-lo de forma diferente. A ele, a capacidade dele e, principalmente, a nossa capacidade de lutar ao lado do que vai se transformar na razão da nossa exsitência.
Amo você, meu estragadinho. Mais que tudo no mundo.
No dia 09/11/ 2009, nasceu o Antonio Pedro, meu filhote. E, com ele, uma nova Adriana. Por causa de uma asfixia, ele ficou 24 dias na UTI. De lá pra cá, temos vivido um dia de cada vez, aprendendo e ensinando. Por causa da tal asfixia, meu pequenininho teve uma lesão no cérebro, na parte motora. E o tratamento é fisioterapia. Exercício, muito exercício. E amor, carinho, paciência... Já foram muitas batalhas vencidas. A continuação dessa história, pretendo ir deixando aqui. Torçam por nós.
Atenção!
"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".
Importante é esse agora particularmente maravilhoso. Tão maravilhoso que é capaz inclusive de alterar o depois, aos cuidados de nosso criador.
ResponderExcluirComo você se sentiria em nosso criador vendo o desempenho seu e dele? O que sentiria quanto à conformação corajosa e compartilhada para ajudar outros em situações tais? Em ver o esforço dele intuitiva e empenhadamente acompanhando o seu? O que acharia desse espírito de esportiva na dureza das circunstâncias?
Bonança à vista!