Atenção!

"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".



quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ai, que fofo, ele já tá engatinhando?

Não. Essa é a minha resposta frequente para a pergunta acima que volta e meia me é feita quando me perguntam como você está e com quanto tempo, filho. Geralmente por pessoas que, claro, não estão por dentro do nosso quadro especial e que, diga-se, não têm culpa nenhuma por isso. E, coitadas, na maioria das vezes o assunto surge para puxar conversa. Naquela típica situação onde os interlocutores não são íntimos e as partes estão apenas tentando ser simpáticas.

"Oi Adriana, como vai o neném?"; "Ai, que lindo! Com quantos meses ele está?"; "Ai, essa fase é uma delícia, né? Já tá engatinhando?". Mais recentemente, como você está ficando maiorzinho ainda, pacote, a coisa evoluiu para: "Ih, já tá andando? Deve estar uma peste."; "Eles não param quietos, né?"... E por aí vai.

A saia justa pra mamãe é que não quero que a pessoa se sinta mal por ter perguntado. Afinal, como falei, é totalmente inocente. Mas aí, faço o quê? Minto, tipo: "É, pois é. Uma peste..." numa espécie de omissão bem intencionada; falo a verdade: "Não." E deixo a pessoa meio no vácuo, meio sem graça ou até ainda na inocência para completar com: "Ih... mas você vai ver. Já já está correndo por aí"; ou explico o caso: "Não. Ele teve uma lesão cerebral e tem algumas sequelas motoras. Por isso, estamos fazendo fisioterapia". Coitado do indivíduo... Ninguém merece uma resposta nua e crua dessas. Difícil, não?

Pois é. E vou te falar que demorei para achar a melhor saída. Costumo sentir o clima e respondo dependendo da pessoa, do meu humor, do momento e, principalmente, do quanto eu acho que ainda encontrarei com aquele ser desinformado. Se é alguém 'de passagem' em nossas vidas, opto pelo "É, pois é, uma peste, menina...", a tal omissão pelo bem geral da situação. Mas se é alguém mais próximo ou que a mamãe costuma ver com mais frequência, aí lanço mão da minha meiguice recém-adquirida e explico com todo o carinho do mundo que você 'teve um probleminha quando nasceu e por isso precisa fazer fisioterapia para ajudar em alguns movimentos', assim sem maiores detalhes. E antes que a pessoa esboce um sorriso amarelo, completo com: "Mas ele está indo super bem. Já já recupera tudo.", o que não é nem um pouco mentiroso! Talvez o nosso 'já já' seja mais demorado, mas a gente chega lá.

Enfim, assim tenho conseguido evitar um mal estar totalmente desnecessário seja pra nós, seja para as outras pessoas.

Qual é o meu ponto aqui hoje? É que muitas vezes quando estamos nos sentindo injustiçados na vida, temos a tendência de nos agarrar a coisas pequenas para descarregar nosso desgosto e sofrimento. Como deixar, por exemplo, que perguntas inocentes nos atinjam como se fossem punhaladas no coração. Tomamos aquilo como uma espécie de ofença e abaixamos a cabeça, seguindo com pena de nós mesmos.

É muito fácil se deixar levar por esse pezar interior. Difícil é conseguir ter a clareza para ver as coisas com o peso que elas realmente tem. Neste caso, quase nenhum.

Ou seja, eu acho que vale um exercício de consciência para enxergar que a manicure do salão ou o vendedor da barraca de bananas de forma alguma quiseram tocar na nossa ferida. Pensa bem: para quê eles iriam fazer isso? Tá, existe gente má. Mas eu sinceramente prefiro pensar que muitas vezes a maldade está solta no ar, pronta pra se prender em quem está mais fraco de pensamento.

Já tive a fase de sentir pena de mim e até de você, meu amor, mas hoje tento levar nossa realidade apenas como... a nossa realidade.

Terminando, pro povo que não pode ver um vídeo aqui que sai correndo para ver antes até de ler o que a mamãe escreveu, vai abaixo mais dois da série "Evolução". O espaço entre esses é mais curto, cerca de um mês só. E acho que, por isso, talvez, os progressos sejam mais difíceis de serem vistos por 'olhos leigos'. Então, coloquei legendas em baixo deles, dizendo o que melhorou.



pés aqui estão mais pra dentro; os joelhos raramente tocam o chão como apoio; o tronco está um pouco mais curvado; e os braços ainda têm tendência a irem para trás.


pés melhores; joelhos com apoio no chão, ainda que não muito simétrico; tronco um pouco mais forte; e braços para frente. E ah! a careca que a mamãe odiava sumiu!

5 comentários:

  1. Gosto do seu jeito forte de pensar e levar as coisas da vida! Sem dúvidas você escolheu as melhores saídas!
    Eu sou a favor do conceito que diz que todos nós somos diferentes e que cada um tem o seu momento certo para tudo na vida! O do ap vai chegar quando ele estiver pronto e ai naninha, ninguém vai segurar essa criança!

    ps: acho que ouvi o dvd que eu dei!!! gostei! Acho que foi, então me deixa achando! rsrrs

    Ap, fala sério, você está é poupando as pernas! Quando você for surfista terá que usá-las a rodo, então é melhor aproveitar esse colinho de mãe ao máximo!!!

    Beijos da dinda!

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  2. Adriana, o que dizer de uma mãe como vc? Nossa... sem palavras...
    Obrigada por esse post. Sabe que ele serviu bem pra mim no dia de hoje?
    Vai com tudo que esse AP vai ser surfista como a dinda dele escreveu!
    Acredite sempre! Nós todos estamos torcendo e acreditando no "já. já".
    Beijos!

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  3. Que texto perfeito! Cheio de lógica, bom senso e coerência! Realmente perfeito. Cada hora é uma hora, cada momento é um momento, tem ocasiões que não estamos a fim de explicar nada pra ninguém, e as vezes explicar tudo tim tim por tim tim tem um efeito terapêutico danado! Uma verdadeira catarse!A vida é assim mesmo, uma roda gigante! Cada hora estamos numa situação diferente e vale é dançar conforme a música pra ser feliz!
    Adriana, vc é muito engraçada! "meiguice recém adquirida" é ótimo! Rsrsrs
    Esse senso de humor, essa maneira de encarar as coisas realmente é sensacional! Mais uma vez: PARABÉNS!!!!
    Um beijo!

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  4. Nana,
    È claro que tb passo por esses momentos e a minha reação, varia de acordo com a pessoa e ocasião. Para as pessoas que não sabem de nada eu tb digo: O nenem vai bem, cada vez mais esperto! Mas quando perguntam meio desconfiadas, eu explico mais ou menos o que aconteceu. Para quem conhece o caso eu digo: O nenem está ótimo!está malhando todo dia, se recuperando cada vez mais e está muito lindo e gostoso. Mas, outro dia, na saída do elevador, uma dessas do 2º grupo perguntou: Êle já fez um ano, já está andando? Ai, eu dei uma respirada e disse: Êle está com 10 meses e...vai levar um tempinho pra andar. Não tive muita paciência, mas vou acabar me acostumando com essas pessoas meio desligadas. Bjs,
    Mamãe

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  5. Muito bom constatar que ele esteja melhorando e assim a caminho do restabelecimento! Bs!

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