Atenção!

"(...) apesar de ter mergulhado de cabeça nesse misterioso mundo das lesões neurológicas e suas possíveis consequências, não sou médica. Tudo o que coloco aqui são impressões e experiências pessoais. (...) Enfim, não sou uma profissional da saúde, apenas uma mãe muito, muito, muito esforçada em início de carreira".



quinta-feira, 8 de julho de 2010

Overwhelmed

Mamãe furou com você ontem, filhote. Aqui, digo. É que eu tava meio pra baixo. Um ataque de bobeira, misturado com cansaço que me fez pensar se eu realmente estava fazendo tudo o que eu podia por você. Nesses quase oito meses - atenção! a serem completados amanhã! -, já senti isso algumas vezes. Imagino que toda mãe deve passar por isso, tendo um pacotinho mais fácil ou mais difícil pra carregar. Mas no seu, no nosso caso a auto-cobrança e a cobrança geral é muito maior.

Hoje em dia já estou bem mais adaptada à nossa rotina, mas no início dá muito medo. A sensação é que não é possível dar conta. Mais ou menos como hoje em dia acontece com a quantidade de informação disponível em tudo quanto é canto. Antigamente, se a pessoa lia o jornal de papel que assinava, sentia-se bem informada. Hoje, temos que ler vários jornais, tem a internet, a TV, o rádio continua aí... A impressão é que nunca estaremos à par de tudo. E não estaremos mesmo. É preciso aprender a filtrar. A eleger. A equilibrar.

Assim como o que eu tenho que fazer com toda a informação que leio e recebo sobre o que fazer com você. Sobre todas as coisas a fazer com você. É tanta coisa...

Mas depois do susto inicial, eu decidi que iríamos conseguir e passei a encarar a coisa quase como um trabalho mesmo. Pra não me perder, fiz planilhas, calendários, colei cartazes pela casa, coloquei o celular pra despertar... Enfim, me cerquei de tudo o que eu podia pra não deixar passar nada. Com o passar do tempo, fui vendo que aquilo não iria funcionar. Não daquela forma. Eu nem curtia mais você. Só pensava no que eu tinha que fazer e no que eu já deveria ter feito. Qualquer momento com você era fazendo alguma coisa indicada por algum médico ou terapeuta seu. Eu era uma máquina de dicas, tentativas e execuções.

Pra cada médico, você é um paciente só. Mas pra mim e pra você, há toda uma junta que opina, que aconselha, que pede, que indica, que pergunta, que cobra. E aí, mamãe tava ficando doida e arrasada. A cada nova consulta ou sessão, quando começavam as perguntas se eu estava fazendo isso ou aquilo, quando chegava alguma coisa que eu não tava conseguindo fazer tanto, antes de responder, eu já me culpava até a minha décima encarnação. Sofri muito. Mais do que sua mãe, eu era sua enfermeira.

Só que eu não queria ver você como um paciente. Eu queria meu filho. Eu queria poder relaxar com meu filho. Queria poder brincar com você sem reparar se a sua mão tá indo pra trás, se seu pé tá virando ou se sua língua tá pra fora.

Aí, decidi em um determinado momento, que a partir dali eu seria dona da nossa rotina. Eu dosaria o que eu achasse que funcionava mais ou menos, eu revezaria atividades, eu elegeria se naquele dia você estava disposto ou não para encarar certas coisas. E foi assim, no convívio do dia a dia, que fomos nos conhecendo cada vez mais e melhor e você e eu fomos vendo do que você era capaz de aguentar, quando e como.

Quando eu deixei de te ver e de me comportar como um robô cumpridor de tarefas, consegui enxergar seu sorriso, consegui identificar seus sons, consegui deitar do seu lado e apenas ver televisão. Ainda que você fizesse questão dos backyardigans...

E assim estamos. Tenho uma lista interminável de possibilidades e testo, acato, faço mais e faço menos de acordo com o meu coração, meu olhar observador e o seu humor, talvez a haste principal desse tripé. Não adianta tentar nada, fazer nada, se você não estiver aberto pra receber. É total perda de tempo e ganho de sofrimento.

Gostaria de poder dizer isso pra todas as mães de crianças capenguinhas que nem você. Talvez se eu tivesse entendido isso mais cedo, teria sido mais fácil. Mas talvez isso também tenha que ser um caminho, uma descoberta pessoal. Torço pra que todas achem o equilíbrio que nem eu. Ainda que de vez em quando eu leve uns tombinhos inevitáveis. Que nem ontem. Mas já tô de pé. Segurando a sua mãozinha e te ajudando hoje e sempre.

com todo o amor do mundo,
mamãe.

8 comentários:

  1. Dri, como é lindo o amor de vcs 2! Um beijo, com muito carinho!

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  2. Nana, a esperança é a arma mais forte que temos. Quando você cair novamente, lembre-se disso, ainda temos tempo! E se depender de você ele será muito bem utilizado e tudo ficará bem! Bjs

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  3. É isso aí, ninguém sabe mais sobre ele do q vc.
    Para de bobeira e bota o pequeno holandes pra malhar q daqui a pouco isso passa.
    Bjo
    Cesar

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  4. Ai amiga, já estou em lágrimas de novo. Deixa eu te falar uma coisa. Culpa todas nós temos. Uma amiga diz que no parto sai a criança e a culpa junto. Isso não tem jeito. Sempre vamos nos perguntar se estamos fazendo o melhor e da melhor forma, SEMPRE. É óbvio que vc está fazendo o melhor pra ele e como melhor conhecedora do seu filho, sabe realmente dosar as coisas. Além de todos os exercícios ele tb precisa do seu carinho, do seu abraço, precisa rir com vc, brincar com vc. Simplesmente porque só isso já deve fazer um bem danado a ele. Faz com que ele se sinta seguro ao seu lado e acima de tudo se sinta amado. Acredito que esses momentos sejam inevitáveis, mas como vc mesmo disse, vc é teimosa, tinhosa e jamais desistirá. Mil beijos

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  5. Olha, filho! Papai deu o ar da graça. Aproveito que o moço é arisco no mundo virtual. Cheio das manias de privacidade, ele... Importante, sabe?

    mas te ama tanto quanto a mamãe. Tanto quanto a mamãe não sei porque não consigo imaginar alguém que te ame que nem eu, mas ele te ama muitão! te atura todo dia à noite, quando chega do trabalho, não importa o quanto ele esteja cansado. É um paizão.

    beijo grande, Flavis! brigada sempre, Paulette. E seja bem-vinda, Tati.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Tô adorando acompanhar a evolução do Cenourinha com todo esse backstage de primeira! Esse menino vai longe! Beijão pra familia toda!

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  8. Querida Adriana, hoje percebi que sempre começo com "querido Antonio Pedro". É instintivo, acho legal falar para ele. Mas hoje, senti necessidade de falar com vc! Papo sério de mãe para mãe!
    Queria te dizer que já furei com meus filhos algumas vezes, já deixei a peteca cair outras vezes, pois só quem tem um filho sabe o que a tal da dedicação exige da gente. Não é moleza não!
    Dar banho, trocar fralda, alimentar, acho tranquilo. Difícil é estar mentalmente disponível 24h por dia para brincar, ensinar, estimular. Essas tarefas são exaustivas ao meu ver, e se a gente não faz o dever de casa direitinho, dá uma culpa danada. Porque hoje em dia, toda mãe que se preze, "tem que ter um filho espertíssimo" e isso gera uma correria louca pelo desenvolvimento, mesmo se o filho não é capenguinha, como vc carinhosamente diz.
    Precisamos estar muito bem psicologicamente para que nossos filhos tb fiquem. E por mais que as vezes seja difícil e por mais que vc tenha que ser forte, toda mãe que se preze também pode se dar ao luxo de as vezes dar uma relaxada e se preocupar apenas com a sua maternagem, que por si só já é uma tarefa e tanto! Então, quando o desânimo bater, não segura a onda não! Deixa ela passar , faça o que seu coração mandar,seja essa mãe maravilhosa que vc é que com certeza vai dar tudo certo. Isso é respeitar seu pacotinho!
    E nunca se esqueça que filhos especiais têm pais especiais. Vc é uma super mãe especial e que tá fazendo tudo muuuuito direitinho!
    Um beijo grande!

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